As lendárias mulheres do serviço secreto de Israel falam pela primeira vez de seu trabalho. E então, pela primeira vez, elas decidiram falar sobre sua vida. E o mundo está ouvindo com atenção descomunal. Porque não são mulheres quaisquer: são as agentes do Mossad, o serviço secreto israelense, ligadas a algumas ações que poderiam estar nos filmes de 007. Sem revelar a identidade real, elas conversaram com uma publicação israelense impressa em hebraico.
Falaram de suas táticas profissionais, que era o que todos queriam saber. Uma delas admitiu o óbvio: é mais fácil para uma mulher iniciar uma conversa com um suspeito do que um homem. Sedução é a arma delas. O limite, afirmaram, é o sexo. Podem pairar dúvidas nisso. Para evitar dramas morais e impasses, um rabino autorizou o sexo para as agentes quando se trata da defesa nacional.
Elas são as modernas Judites, a bela personagem bíblica que atraiu um rei inimigo a um encontro amoroso e, na reclusão da alcova, cortou sua cabeça.
Uma das operações históricas das mulheres do Mossad se deu nos anos 1980. Um cientista israelense que trabalhara no desenvolvimento da bomba atômica em Israel estava em Londres negociando a venda de informações sobre a então secretíssima estratégia nuclear de seu país. O comprador era um jornal de Murdoch.
Um dia, o cientista esbarra com uma mulher bonita na Leicester Square, uma das ruas mais movimentadas do centro de Londres. O flerte se inicia imediatamente. Ele quer sexo, e então ela propõe uns dias na capital do amor, Roma.
Para encurtar: no aeroporto de Roma, agentes do Mossad esperavam o cientista apaixonado. Aplicaram nele uma droga para derrubá-lo e o levaram para Israel, onde foi condenado a 18 anos de cadeia, doze dos quais em confinamento solitário. Foi solto recentemente.
As agentes do Mossad participaram também de operações de vingança contra o ataque terrorista a atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique de 1972. Alguns dos autores do atentado caíram primeiro sob o encanto feminino delas antes de sucumbir à execução.
No ano passado, uma peça em Londres contou a história de uma agente do Mossad que teve papel destacado no ajuste de contas pós-Munique.
A autora da peça dissenque conheceu em Israel uma mulher alta, loira, uma mistura de Liv Ulmann e Ingrid Bergman. Ela já estava na casa dos 50, mas conservava a beleza, segundo a escritora. Ela trabalhara no Mossad como sedutora de supostos inimigos, e contou sua história para a escritora.
Desse encontro nasceu a peça, Honeypot (pote de mel). Honeypot é o nome dado às atividades de sedução calculada, em que o objetivo é que o alvo acabe preso no mel da paixão para então ser capturado ou morto.
Em Israel um filme local ainda por lançar traz a supermodelo israelense Bar Rafaeli no papel de uma agente do Mossad que seduz, em Dubai, o líder palestino Mahmoud al-Mabhouh como parte do plano para matá-lo. O único personagem real do filme, segundo os produtores, é o morto. O caso, ocorrido em 2010, teve repercussão internacional. O Mossad negou ter matado Mabhouh, mas como se vê nem em Israel a negação foi levada a sério.
Das agentes do Mossad que contaram ao jornal israelense sua vida, quase todas são solteiras. A dedicação é intensa demais para que elas possam cuidar de uma família.
Apenas uma é casada. Ela contou que tem dois filhos, e que seu coração se parte quando olha para eles e pensa que a atenção que lhes dá não é a ideal.
Mas a pátria vem primeiro. Num mundo de paz, o trabalho delas seria certamente mais ameno. Mas não é exatamente este o caso – e os fatos recentes sugerem que, antes de melhorar, o cenário no Oriente Médio ainda vai piorar muito.