Saiu no jornal The Sunday Times um artigo com o título: “A Lua sobe para reivindicar seu lugar como planeta”. Isso chamou a atenção de muita gente, e vários jornais internacionais passaram a repostar essa manchete, mas apesar de parecer muito estranho, há um estudo científico que levanta esse argumento. “A Geophysical Planet Definition” sugeriu que os critérios para determinar o que constitui um planeta precisam de uma revisão. Se para muitos, Plutão já foi injustiçado o suficiente, para tantos outros, até a nossa Lua entrou na dança…
O artigo publicado na revista Planetary Lunar Science, foi escrito por uma equipe incluindo Alan Stern (famoso pela missão New Horizons, que visitou Plutão em 2015). O artigo é um pouco técnico, mas basicamente argumenta que a geofísica de um corpo deve determinar se ele é um planeta, e não apenas se ele orbita o Sol.
Alan Stern já ficou chateado em 2006, quando a União Astronômica Internacional (UAI) considerou que Plutão não era mais um planeta. Quando sua sonda New Horizons chegou ao destino, Plutão era um mero “plutóide”, um “planeta anão trans-netuniano”. No artigo, Alan Stern provoca o novo sistema de classificação de planetas, e pergunta: “por que vocês enviaram a New Horizons para Plutão se nem planeta ele é mais?”
Reclassificar Plutão como planeta-anão fez com que os norte-americanos não tivessem um planeta sequer descoberto por eles. Por conta disso, há quem diga que a ideia de fazer com que Plutão “se torne um planeta novamente” seria apenas uma tentativa dos EUA de ter pelo menos uma descoberta de planeta em sua lista…
E por incrível que pareça, a Lua (assim como Plutão) já foi considerada um planeta, e acabou perdendo seu status em uma determinada época. Entenda como isso aconteceu…
Sim, a Lua já foi um planeta
Estamos tão acostumados com a Lua sendo o satélite natural da Terra que a idéia de que poderia ser um planeta chega a ser chocante. Mas segundo os astrônomos gregos e medievais, a Lua realmente era considerada como planeta.
Antigos observadores sabiam que as estrelas mantinham suas posições relativas noite após noite. Eles viam as constelações assim como nós vemos hoje em dia, mas eles também repararam que alguns corpos celestes mudavam de posição.
Os “signos do Zodíaco” assinalavam o círculo que os astrônomos chamam de eclíptica. Sabendo disso, os corpos celestes que mudavam de posição, segundo os astrônomos antigos, eram: o Sol, que orbitava a Terra a cada 1 ano (hoje sabemos que é o contrário); Saturno (a cada 30 anos); Júpiter (a cada 12 anos); Marte (a cada 2 anos), e a Lua (a cada 1 mês). De fato, a palavra planeta vem do grego πλανήτης (no latim, planeta) que significa “andarilho”.
A Lua era realmente extraordinária, pois tratava-se do único “planeta” com traços visíveis. Aristóteles (384-322 aC) fez várias perguntas sobre a física da Lua, inclusive por que vemos sempre a mesma face, e nunca o outro lado… Hoje sabemos que isso ocorre por conta de forças gravitacionais comuns entre planetas e grandes luas, que gera um efeito chamado “rotação sincronizada”. Mas para Aristóteles, a Lua não mostrava seu outro lado porque ela não tinha a capacidade de girar ou de se mover. Ele assumiu que isso também acontecia com os outros planetas, que segundo ele, eram transportados por algo parecido com uma corrente em círculo. Essa foi a origem elaborada da cosmologia medieval. Se a nossa Lua não tivesse rotação sincronizada, a astronomia poderia ter tomado um rumo diferente…
Geralmente, os satélites naturais orbitam muito perto do plano equatorial de seus planetas, diferente da Lua, que se inclina em até 28 graus. No entanto, não percebemos isso, pois o eixo da Terra é inclinado em 23,5 graus. A cominação dessas duas circunstâncias incomuns faz com que a Lua pareça se mover no plano da eclíptica, nunca se afastando dela por mais de 5 graus. Se não fosse por isso, provavelmente os astrônomos não teriam tratado a Lua como um planeta comum…
Quando a Lua passou a ser um satélite da Terra
Com o modelo heliocêntrico de Copérnico, publicado em 1543, percebemos que tudo girava em torno do Sol, que ficava no centro do Sistema Solar, e não em torno da Terra. Com isso, concluiu-se que a Lua orbitava o nosso planeta, e não o Sol. A Lua era agora um “satelles” da Terra, o que sugeria que vários outros satélites também existiam no Sistema Solar. Assim que Galileu apontou seu telescópio para Júpiter, em 1610, ele descobriu quatro novos satélites. Isso era um ótima notícia para Copérnico, mas um terrível momento para a Lua, que passou a ser apenas um dentre outros satélites. Esse número subiu rapidamente, e hoje conhecemos mais de 180 satélites naturais no Sistema Solar.
Com seu novo ponto de vista sobre o que são planetas, Alan Stern ressuscitou uma batalha antiga. De acordo com seu trabalho, os astrônomos “podem achar a definição da UAI perfeitamente útil”, mas “a nossa definição geofísica é mais útil para praticantes de geociências planetárias, educadores e estudantes”.
Em 2015, Alan Stern indagou: “Por que você ouviria os astrônomos sobre um planeta ao invés de cientistas planetários, que sabem algo sobre o assunto?”. E se você pensa que é apenas o Alan Stern, saiba que a ideia é apoiada por diversos cientistas planetários.
E agora? Será que a Lua pode voltar a ser classificada como planeta? Isso vai depender da União Astronômica Internacional, que não parece disposta a dar o braço a torcer…
Fonte: Galeria do Meteorito