Lembra do caso do cirurgião que pretende fazer o primeiro transplante de cabeça do mundo em 2017? Bom, ao que tudo indica as suas pesquisas estão avançando. Sergio Canavero publicou resultados de estudos com animais, no qual obteve sucesso nos seus experimentos de remoção e reacoplação da medula espinhal em ratos, camundongos e um cachorro.
Os artigos publicados na revista Surgical Neurology International descrevem os testes. Neles, Canavero conta que usou o polietiloglicol, conhecido pela sigla PEG, para reconectar as medulas espinhais danificadas.
Ele publicou vídeos dos resultados. As imagens não são agradáveis, por isso pouparemos os seus olhos de vê-las de surpresa. Se você quiser ver os resultados, estando ciente de que as imagens podem ser fortes, aqui está o vídeo de um camundongo, um rato e o cachorro em diferentes etapas de recuperação.
No experimento com camundongos, Canavero e sua equipe cortaram a medula espinhal de 16 camundongos. O PEG, que, em tese, permite reconectar as duas pontas da medula cortada unindo os neurônios envolvidos, foi injetado nas áreas danificadas de metade dos roedores, e a outra metada recebeu uma solução salina, sendo o grupo de controle. Nas semanas seguintes, dos oito ratos que receberam o PEG, cinco recuperaram um pouco de mobilidade, e três morreram. Nenhum dos ratos do grupo de controle voltaram a se mover.
Outro teste com ratos não tiveram os mesmos resultados, porque o laboratório inundou e matou quatro dos cinco animais. Eles seriam cobaias em um teste com uma versão melhorada do PEG com nanolaços de grafeno que facilitaria o crescimento dos neurônios, mas o teste ficou incompleto.
Por fim, o teste com um cachorro. Neste caso, os pesquisadores cortaram 90% de sua medula espinhal, mas o animal foi capaz de começar a mexer as patas traseiras em duas semanas; em três, ele já andava, pegava objetos e balançava a cauda. O experimento foi único, e não houve grupo de controle.
Agora fica a dúvida sobre quão verídicos são os resultados e os métodos envolvidos nestes experimentos. A New Scientist, por exemplo, observa problemas na falta de uma amostragem mais ampla e o fato de não haver um controle no experimento do cachorro também cria suspeitas. Por fim, também há poucas evidências de que a medula foi tão danificada quanto Canavero relata.
Operação em humanos
Canavero está se preparando para realizar a primeira cirurgia em humanos no fim de 2017, segundo a previsão de Valery Spiridonov, o paciente. A data exata e o local, no entanto, seguem indefinidos.
Aos 30 anos, Spiridonov é portador da Doença de Werdnig-Hoffman, um tipo de atrofia muscular espinhal que resulta em enfraquecimento muscular para o qual ainda não existe nenhum tipo de tratamento conhecido. O cérebro se desenvolve normalmente, porém, o que significa que o paciente tem plena noção dos riscos envolvidos, mas se mostra disposto a enfrentá-los.
Uma equipe de médicos liderada pelo cirurgião italiano Sergio Canavero está planejando o primeiro “transplante de cabeça” da história. O procedimento, que colocará a cabeça de uma pessoa em outro corpo, deve levar 36 horas ao todo, exigindo uma equipe médica de mais de 150 pessoas.
“Segundo os cálculos de Canavero, se tudo der certo, dois anos é o tempo necessário para verificar todos os cálculos científicos e planejar os detalhes do procedimento. Não é uma corrida. Sem dúvida, a cirurgia será feita assim que todos os médicos e especialistas tiverem 99% de certeza de sucesso”, contou Spiridonov à agência russa Sputnik.
Riscos
Obviamente, a operação apresenta riscos enormes. As dificuldades do procedimento cirúrgico são apenas alguns deles, pois existe também a possibilidade de que o corpo novo rejeite a cabeça. Segundo Arthur Caplan, diretor de ética médica do Langone Medical Centre na Universidade de Nova York, é possível também que o corpo seja “sobrecarregado por novos caminhos e química aos quais não está acostumado e fique louco”.
Comentando sobre a operação, o doutor Hunt Batjer, presidente da Associação Americana de Cirurgiões Neurológicos, disse que “não desejaria isso para ninguém” e que “não permitiria que alguém fizesse isso comigo, pois há muitas coisas piores que a morte”.
Em 1970, um procedimeno semelhante foi realizado em um macaco. Ele sobreviveu à cirurgia, mas viveu apenas oito dias depois, pois o corpo rejeitou a cabeça. Além disso, a tecnologia da época não permitiu que a nova cabeça se conectasse apropriadamente à nova medula.
Veja abaixo um TED Talk com Sergio Canavero, no qual ele fala sobre as tecnologias que permitem esse tipo de procedimento: