Como prometido, o novo iOS 7 recebeu uma interface totalmente nova, desta vez com forte influência de Jony Ive. Mas algumas dessas novidades já estavam presentes em outros sistemas da concorrência –
tanto os atuais, como alguns que (na prática) já se foram.
Em toda versão do iOS, a Apple adota algo que já existia antes, e os
críticos sempre são rápidos em notar isso. Separamos aqui as principais
influências da empresa.
É a mesma história que ouvimos desde pelo menos 2009: o iOS 3 ganhou copiar e colar em todo o sistema? “O Android já tem!” Com o iOS 4, veio a multitarefa e videochamada por FaceTime – “Nokia com Symbian já tem!”
A central de notificações do iOS 5 e a maior integração com redes
sociais no iOS 6 causaram reação semelhante.
E mesmo assim, os críticos sempre esquecem que a Apple raramente é a primeira em implementar funções novas, ou mesmo em criar produtos
totalmente novos. Ora, ela nem foi a primeira a criar um MP3 player,
nem a primeira a criar smartphones, nem a primeira a criar tablets. E
ela não será a primeira a criar uma TV inteligente, nem um relógio de
pulso inteligente.
O que a Apple faz de melhor é refinar a experiência de uso ao seu
jeito, seja no hardware ou software. Por isso, é inegável que ela seja
influenciada por interfaces e funções que vieram antes. Dessa forma,
vejamos os antecessores que claramente inspiraram a Apple ao criar o novo iOS 7.
Plano e profundo
Com o iOS 7, a Apple deixa de lado o esqueumorfismo: eles até soltaram várias piadas durante a keynote, criticando as texturas de couro, feltro e vidro que tentavam imitar elementos da vida real.
Assim, o iOS 7 adotou elementos do flat design, algo que outras empresas estão fazendo há algum tempo. O maior exemplo é o Windows Phone, com cores fortes, foco em tipografia e elementos de interface que são realmente digitais. O Google também passou a adotar elementos do flat design em seus apps.
Além disso, o iOS 7 ganhou profundidade: para dar a noção de camadas, o iOS 7 usa um efeito paralaxe na tela inicial, que permite ver “atrás” dos ícones; e desfoque Gaussiano ao se navegar dentro de apps. O efeito paralaxe está longe de ser novo: ele está disponível até para iDevices com jailbreak (apesar de ser menos refinado). E o desfoque, que lembra vidro, remete à forma como o Windows Vista e 7 organizam as janelas.
Tela de multitarefa
Há quatro anos, a Palm mostrava a multitarefa o webOS: cada app era uma carta, e você deslizava entre elas horizontalmente; para fechar um app, basta deslizá-lo para cima.
A ideia era tão boa que acabou sendo reproduzida, mesmo que em parte, em outros sistemas. O Windows Phone é um deles. O Android faz algo semelhante – pudera, já que seu designer Matias Duarte veio da Palm. E, agora, o iOS 7 entra na lista dos inspirados pelo finado webOS.
Control Center
O novo menu do iOS 7, aberto ao deslizar a partir da borda inferior do iPhone, permite acesso rápido a configurações de Wi-Fi, Bluetooth, modo avião e outros.
Esta era uma função desejada por muitos usuários do iOS, mas que
começou no Android: as skins de fabricantes, especialmente Samsung e LG, incluíam botões no menu de notificações. O Symbian, nas versões mais recentes, também adotou esses botões. O BB10, da BlackBerry, fez o mesmo.
Na verdade, iDevices com jailbreak já possuem isso há anos, com o SBSettings. Por enquanto, dos maiores sistemas móveis atualmente, só o Windows Phone não possui controles nativos para acesso rápido.
Tela de bloqueio
No iOS 7, a tela de bloqueio deixou de lado a antiga área “Deslize para destravar”: agora você pode desbloquear a partir de qualquer ponto da tela. Ela também reúne as notificações, e ao deslizá-las, você é levado ao app correspondente. Era basicamente assim que funcionava a tela de bloqueio no Nokia N9, que rodava o MeeGo Harmattan.
Agora também é possível abrir a central de notificações a partir da
tela de bloqueio, algo implementado no Android 4.2.
Apps nativos
Nós torcíamos que a Apple implementasse mais gestos no iOS para melhorar a usabilidade do sistema no iPhone 5. Um dos gestos é voltar deslizando o dedo na borda esquerda, e ele está presente nos apps nativos. Mas esse gesto estava presente no N9, e também foi
implementado no BlackBerry 10.
Durante a keynote, a Apple passou um bom tempo mostrando o app Tempo, que agora possui imagens dinâmicas de chuva, sol, nuvens e outros. Mas o design do app é bem parecido com o que vimos no Yahoo Tempo, e na verdade foi criado pela HTC há anos: um app semelhante faz parte da skin Sense (para Windows Mobile!) desde pelo menos 2009.
O app câmera agora tira fotos quadradas e aplica filtro nelas, assim como o Instagram. O app Mail, por sua vez, adotou diversos gestos e lembra bastante o Mailbox, e também o app do Gmail. E a interface para receber ligações é bem parecida com a do Windows Phone. “Bons artistas copiam, ótimos artistas roubam”.
A lista poderia continuar. O problema é que poderíamos fazer uma lista semelhante sobre o Android. E outra sobre as skins de fabricantes. E outra sobre o Windows, e outra sobre o BB10.
Porque, no final das contas, o que importa é a implementação dessas ideias, e como elas são melhoradas. Não é uma cópia pela cópia, para ficar igual à concorrência: perceba que, mesmo após tantas inspirações, o iOS 7 ainda é bem diferente do MeeGo, Windows Phone ou webOS. A Apple
sabe reunir elementos como ninguém.
É isso que Steve Jobs quis dizer em 1994, quando parafraseou Pablo
Picasso: “bons artistas copiam, ótimos artistas roubam”. Você se
inspira no passado para criar algo novo e diferente. Ora, não dá para
recriar um sistema móvel do zero todo ano. E por que evitar uma ideia
que já existe se ela é boa?
Ah, os processos judiciais? Dado que a Apple já processou (e foi processada) muitas vezes em questões envolvendo propriedade
intelectual, não duvido que as inspirações sejam diferentes o bastante para a empresa evitar problemas na Justiça.
Por todos esses motivos, julgar um sistema pelo que ele “copiou” de
outros não leva a lugar nenhum – indiferente se falamos do iOS,
Android, Windows Phone ou qualquer outro. É interessante ver cada pedaço que se popularizou de cada sistema operacional — tenha ele vingado ou não na furiosa disputa dos smartphones. Mas o importante é se concentrar na experiência de usuário, e em como tudo funciona e se encaixa. É algo que muitos deveriam ter aprendido há anos.
Fonte: GigaOM, The Verge