Em toda a Europa, eleitores descontentes com os líderes políticos do continente estão abandonando siglas tradicionais e
votando em partidos novos, com propostas diferentes. Na Alemanha, o principal expoente desse fenômeno é o Partido Pirata.
A reportagem é da BBC Brasil, 13-05-2012.
No final de abril, a sigla recebeu 8% dos votos nas eleições no Estado de Schleswig-Holstein, no norte do país. Isso foi suficiente para o partido conseguir ingressar no Parlamento estadual. O Partido Pirata já está representado em três Estados alemães.
Neste final de semana, eles podem conquistar ainda mais votos na eleição na Renânia do Norte-Vestfália, um Estado alemão que tem quase as dimensões de um país, e inclui grandes regiões urbanas, como Colônia, Duesseldorf e Ruhr (atualização: o Partido Pirata fez 7,5% dos votos e elegeu mais 18 deputados neste estado).
O Partido Pirata é muito diferente de qualquer outra agremiação política. Em um recente congresso da sigla, os integrantes vieram vestidos com roupas coloridas e fazendo muito barulho. Alguns deles chegaram até mesmo a se vestir como piratas.
Durante muitos discursos, a maioria dos presentes estava ligada na internet, com seus laptops. Na verdade, eles pareciam estar apenas semipresentes, alternando sua atenção entre o que acontecia na sala e o que se passava nas telas dos seus computadores.
Outra característica é que eles não possuem plataformas políticas convencionais. Em temas considerados importantes – como a questão fiscal ou a melhor forma de salvar a moeda europeia – o partido não possui políticas definidas.
Segundo Matthias Schrade, um dos líderes do Partido Pirata, essa é justamente a força da sigla. Ele disse à BBC que o partido tenta devolver o poder das mãos dos políticos aos cidadãos comuns. "Nós oferecemos o que as pessoas querem. As pessoas estão iradas com os outros partidos porque eles não fazem o que os políticos deveriam fazer. Nós oferecemos transparência, participação. Nós oferecemos democracia básica", disse Schrade.
'Democracia líquida'
O método de elaboração de políticas públicas do Partido Pirata é pouco convencional. Eles apelidaram esse processo de "democracia líquida". Integrantes da sigla sugerem temas que são discutidos em salas de bate-papo na internet com uma tecnologia conhecida como "Etherpad". As ideias são formadas no espaço virtual antes de serem levadas ao mundo real.
Pesquisas de opinião indicam que a popularidade do Partido Pirata é maior entre pessoas com menos de 34 anos. O partido está conseguindo tirar votos de siglas de esquerda e do Partido Verde, além de obter apoio de eleitores que não costumavam votar.
Com as eleições nacionais de 2013 se aproximando, os outros políticos alemães ainda não sabem o que pensar direito sobre o Partido Pirata. Em um país onde coalizões são fundamentais no processo político, siglas pequenas têm o poder de decidir quem forma um governo.
Será que o partido da moda pode se tornar a sigla do futuro? Um dos problemas é que toda a filosofia do Partido Pirata é baseada justamente na informalidade.
O movimento começou em 2006 na Suécia e poucos meses depois chegou à Alemanha. O nome do partido veio do movimento que pede mais liberdade de direitos autorais na internet. Na internet, "piratas" são internautas que baixam músicas e filmes sem pagar direitos autorais. Na Suécia, dois integrantes do Partido Pirata nacional conseguiram se eleger para o Parlamento europeu. Na Alemanha, nenhum "pirata" conseguiu chegar ainda ao Bundestag – o partido alemão -, mas a sigla virou um fenômeno em eleições estaduais.
Em Berlim, o partido está pregando políticas que são populares entre esquerdistas – como, por exemplo, o direito a uma renda mínima básica para todos os alemães – e entre direitistas – contra regulação governamental da internet.
Partido nacional?
A grande questão é saber se o sucesso regional conseguirá ser repetido no âmbito nacional. Pesquisas de opinião mostram que o CDU, da chanceler Angela Merkel, está oscilando ao redor de 36% da preferência dos eleitores. O principal partido de oposição, o SPD, tem 26%.
Tudo indica que o vencedor precisará do apoio de outras siglas menores para governar, já que ambos estão muito longe de obter a maioria no Parlamento. O terceiro maior partido alemão, o FDP, que integra a coalizão de Merkel, está em um processo de enfraquecimento.
Políticos estão se perguntando quem vai preencher esse vácuo na política alemã. No passado, o Partido Verdesempre foi importante, mas agora o Partido Pirata surge como uma possibilidade real de virar a força decisiva na formação de um governo nacional.
Para o cientista político Gero Neugebauer, da Universidade Livre de Berlim, até o momento a principal força do Partido Pirata tem sido a sua falta de políticas claras, mas isso pode mudar no futuro. "Esse é o truque. Eles dizem 'nós não sabemos [quais são nossas políticas], vocês não sabem' – então vamos descobrir juntos a resposta para essa pergunta", diz o cientista político.
"O motivo pelo qual eles estão crescendo tão rapidamente é que eles são novos agora, e isso é suficiente neste momento. Mas não no longo prazo."
No curto prazo, o Partido Pirata está surfando uma onda de descontentamento. E esse sentimento não parece que vai desaparecer na Europa no futuro próximo, e pode ser suficiente para colocar a sigla no Bundestag já no ano que vem.