Os guardas haviam derrotado Asher, que estava em uma posição de reverência ou execução, com as pernas dobradas e joelhos no chão. O guarda olhava fixamente para o mago, outro guarda ao lado, levantava lentamente sua espada sobre a cabeça, pronto para decepar a cabeça do Mestre da Tormenta.
A posição que o guarda se encontrava, era uma pose de autoridade. Ele se sentia no poder, no controle, uma sensação viciante. Por esse motivo o guarda demorava a deferir o golpe. Ficou naquela posição por vários segundos, aproveitando a sensação.
As espadas dos dois guardas estavam apontadas para Asher, prontas para acabar com sua jornada. De repente o mago sentiu uma sensação de conforto, era um bom pressentimento. Suas habilidades sensitivas lhe deram a impressão que algo bom estava para acontecer. Como era acostumado a sentir os ambientes ao seu redor, o mago confiou, fechou os olhos e esperou o seu milagre.
O guarda que segurava a espada sobre a cabeça viu o mago fechar os olhos e pensou que talvez ele tivesse desistido de lutar, talvez tivesse perdido a esperança e se entregado à morte. O outro guarda ao lado segurava a espada na altura da cintura, olhava para o parceiro, esperando impacientemente o golpe de misericórdia.
O mago abriu os olhos e olhou para a porta, ficou concentrado observando, parece que já sabia o que viria a seguir. A porta caiu no chão. Um estrondo soou no recinto, quando a porta de madeira tocou o chão. Pode-se ouvir o ruído do baque da porta no chão, a porta fôra derrubada.
Cinco homens trajando armaduras brilhantes e elmos, armados com espadas em mãos, invadiram o salão, saudosos, prontos para exterminar o inimigo, com sede de justiça. Eram os Paladinos de Dag, um grupo de cavaleiros que lutavam pela justiça. Tinham nomes de guerra, um código de conduta e honra, um nome pelo qual lutar e uma ordem para honrar.
Entre os cinco homens, um se destacava, o terceiro contando da esquerda ou da direita, estava no meio dos outros, o chefe. Era o único que além da armadura, trajava também uma capa branca com uma fênix no centro, era o símbolo da ordem, que pertencia ao reino de Fênix.
Esse mesmo cavaleiro caminhou na direção dos guardas que estavam atônitos, e em um movimento giratório o paladino rasgou o pescoço dos dois guardas, que caíram no chão, morrendo engasgados com o próprio sangue. O cavaleiro embainhou a espada, que ficou presa na cintura.
O paladino tirou o elmo, mostrou sua face. Asher olhou para o homem e o reconheceu na hora, era Warlok, conhecido como Justiceiro Exilado, general do exército do Reino de Fênix, soldado da Ordem dos Paladinos de Dag, a guarda real do Rei de Fênix, mestre da Escola de Esgrima de Fênix, uma ordem de treinamento de jovens cavaleiros.
O Justiceiro Exilado pôs o elmo entre as mãos e avançou na direção do mago. Asher fitou o paladino por vários segundos, olhou seus cabelos ruivos de comprimento médio, presos atrás da cabeça, os olhos verdes observavam estáticos e penetrantes, a pele levemente bronzeada, parecia oleosa, seu queixo tinha alguns pêlos ralos, tinha uma marca no meio, uma divisão central que dava um charme ao cavaleiro, tinha jeito de galã.
Após longos segundos parados se olhando, o paladino agiu, estendeu a mão para levantar o mago que ainda estava no chão. O mago pegou a mão do cavaleiro, que o auxiliou com um puxão para levantá-lo. O mago foi levantado com ajuda de Warlok, que novamente congelou seu olhar na direção do mago, ficaram parados novamente, se encarando, até que o mago assentiu com a cabeça e logo após o mago saiu pela mesma porta que entrou.
O Justiceiro Exilado saiu do salão, e com ele levou dois guardas, outros dois ficaram para auxiliar o mago, que estava cansado, literalmente esgotado, perdeu toda sua energia conjurando magias e feitiços nos combates, e agora estava sem energia e confuso.
Asher não entendia porque seu amigo teria saído às pressas. Desde que conheceu Warlok, há anos, quando ele se mudou para Fênix, correndo atrás do seu sonho de ser paladino, nunca vira seu amigo agir de tal maneira, nada de cumprimentos calorosos como ele sempre fazia ou mesmo palavras de conforto pela tragédia, apenas um silêncio profundo.
– Ele está concentrado hoje – avisou outro paladino enquanto se aproximava – Quer apresentar
melhores resultados ao nosso mestre.
– Eliot está aqui em Atlans? – questionou o mago.
– Não, está em Fênix – respondeu o outro paladino.
– Claro, é de se esperar que ele não esteja aqui, afinal, sempre me odiou. E vocês podem me
ajudar? – perguntou o mago.
– Sim, podemos. Warlok nos deixou ordens, temos que curar você e ajudá-lo a recuperar sua energia.
– Não era dessa ajuda que estava falando, consigo me curar sozinho – nesse momento pegou um estojo de equipamentos que estava preso à cintura, tirou algumas sementes de um bolso externo do estojo, enfiou as sementes na boca e mastigou, engoliu as sementes, se encostou à parede, deslizou até o chão e lá ficou sentado por vários minutos, até que dormiu.
Warlok corria junto aos seus parceiros na direção do palácio do conselho de Atlans, uma cidade que diferente das outras não tinha um Rei, tinha apenas um pequeno conselho de dez pessoas, sete homens e três mulheres, que administravam a cidade. O prédio era o mais moderno da região, era circular, um tipo de torre, começava com trinta metros de diâmetro e diminuía até o ponto mais alto, onde o diâmetro ficava menor, cerca de oito metros.
O prédio era feito de algum tipo de concreto, com detalhes em metal que sustentavam as varandas externas, tinha o símbolo da cidade no cume. As portas estavam abertas, protegidas por guardas armados, alguns com espadas e outros com lanças, enquanto o grupo de paladinos se movimentava na penumbra noturna, nos escuros corredores da cidade.
A corrida cessou, os paladinos se distribuíram ao redor do prédio, fortemente protegido. Era hora da reunião semanal, dentro de um salão no segundo andar. Todos do conselho estavam sentados ao redor de uma gigante mesa redonda. No centro da mesa estava um mapa, com miniaturas de cavalos, peões, torres e bispos, pareciam um grande xadrez, mas apenas aparentava, pois era um mapa das terras conhecidas, com reinos em suas posições, e seus respectivos exércitos movendo-se em direção a Atlans. Todos desejavam o
mais novo artefato descoberto pelos estudiosos de Atlans, que afirmavam ter encontrado o Martelo de Dag.
O líder eleito do conselho era Namish, um homem relativamente jovem, se comparado a outros membros do conselho. Tinha cerca de 40 anos, era negro, com cabelos lisos entrançados, olhos esverdeados, cavanhaque de cabelos escuros e oleosos, tinha tamanho médio, nem alto nem baixo demais, era levemente musculoso, usava um tipo de armadura que lhe cobria peitoral, antebraços, ombros, quadril, joelhos e canelas, era totalmente dourada, era banhada em ouro e uma capa cobria toda parte de trás do corpo. Em meio à discussão, o homem se levantou e todos se calaram. Ele observou todos os membros. Quando estava
pronto para começar a falar um guarda o interrompeu:
– Senhor, a cidade foi invadida pelos cavaleiros de Fênix, a elite, os paladinos. Todos precisam subir para o último andar, achamos que eles estão por perto.
Namish se virou estupefato, olhou para o guarda com uma face de surpresa e reprovação.
– Como ousa interromper o conselho? Perdeu o juízo, guarda de merda?
– Senhor, a situação é perigosa, estou solicitando informações, parece que os paladinos invadiram a torre do calabouço, libertaram o mago – avisou em tom agressivo.
– Veja bem seu maldito, não ligo para o que esses merdas vão fazer, pois você irá me proteger – berrou Namish – Agora me deixe trabalhar, ou eu mato você – pegou então um martelo em uma mesa ao lado, empunhou-o e olhou ferozmente para o guarda – Fora! Agora, vamos! – berrou por fim.
O guarda perdeu a paciência, sacou a espada, caminhou decidido a fazer os conselheiros saírem do recinto, era o instinto de proteção a qualquer custo, sempre foi assim entre a guarda de Atlans, eram treinados para lutar até o ultimo homem e proteger seus amos incondicionalmente, mesmo que eles não queiram sua proteção ou até à força, se preciso.
– Irei proteger todos, nem que seja à força ou eu mesmo vou matar cada um de vocês. Subam, agora, meu senhor!
Namish era um homem estressado, então não hesitou, deu um passo para trás, girou o martelo que empunhava e o jogou na direção do guarda. O martelo cortava o ar, de repente começou a brilhar, um tipo de brilho místico, ficou vermelho, e pegou fogo, tudo em poucos segundos. O guarda sentiu uma pancada no peito, suas costelas se partiram com o golpe, o martelo penetrou na carne, queimando e carbonizando sua pele na hora. O guarda sentiu-se desfalecendo. Caiu no chão, desmaiado, perdeu os sentidos.
O líder do conselho ficou impressionado com o poder do Martelo de Dag, viu o estrago que causou, o olhou analisando, era um martelo de guerra, seria comum se a haste que segurava o bloco de metal não fosse tão curta. Tinha vários símbolos talhados provavelmente à mão. Os símbolos estavam em todas as partes, eram sigilos mágicos, de invocação de poder, era magia pura e energias divinas que se manifestavam através do artefato.
Todos questionavam se seria mesmo a arma lendária do Deus da Luz, Dag, e ninguém chegava à conclusão alguma. Antes dessa investida de Namish, ninguém vira seu poder antes. Todos ficaram surpresos e com
medo, era algo sobrenatural manifestando-se na frente deles.
Namish sentiu o poder em mãos, era algo impressionante, o martelo seria a arma mais poderosa das terras conhecidas e estava em sua posse. Inevitavelmente o poder lhe subiu à cabeça, sentiu que podia derrotar qualquer um com o martelo, mesmo sem ter nenhum preparo para batalhas, era apenas a confiança na arma.
Os conselheiros continuavam paralisados de medo, o ditador Namish, agora possuía o poder divino, e ninguém ousaria desafiá-lo. Todos olhavam para o líder, esperando alguma reação, mas nada acontecia. Ele apenas fitava o homem no chão, estava perplexo, como todos que viram o poder da arma.
O guarda desmaiado no chão tinha uma hemorragia no peito. As costelas perfuraram os pulmões, o ar escapava pelos ferimentos, em volta da ferida estendiam-se várias manchas negras. Eram os tecidos da pele carbonizados pelo fogo mágico que emanava do martelo. O pobre o homem morreria em alguns minutos, e Namish, foi o seu assassino.
O líder do conselho finalmente se mexeu, olhou para os guardas, sorrindo – estava com o poder em mãos. Gesticulou para que os outros membros do conselho saíssem da sala, todos saíram, subiram as
escadas em direção ao último andar.
Do lado de fora da torre do conselho os paladinos estavam silenciosamente derrubando os guardas. Warlok e seus subordinados apagaram todos os guardas que protegiam o prédio. Os reforços marchavam na direção da torre, os paladinos, se preparavam para a batalha. De um corredor minaram oitos guardas armados, empunhando espadas de guerra. Os guardas trajavam uma armadura simples que cobria apenas pontos vitais ou críticos em batalha, os elmos eram todos iguais, ovais, com detalhes no rosto, como aberturas para respiração e para os olhos. Os guardas viram os paladinos, o grupo ajustou-se em formação de batalha, quatro em um lado, alinhados em um círculo, e quatro de outro. Alinhados na mesma posição, os guardas apenas esperaram a investida dos paladinos.
Os paladinos por sua vez, estavam dispostos em linha, lado a lado uns dos outros. No meio Warlok segurava sua espada, que tinha detalhes de pássaros flamejantes na lâmina. Os outros paladinos se entreolharam, Warlok fez um sinal com a mão, e saiu, correu na direção da torre. Os outros paladinos, eram dois contra quatro, mas os paladinos, tinham uma vantagem: contavam com sua pequena habilidade na magia.
Namish viu um movimento no corredor circular que separava o salão dos pequenos muros onde os guardas estariam normalmente. Através do corredor um vulto se movimentava rapidamente, se esgueirando na penumbra e se escondendo atrás de paredes e objetos dispostos em várias partes. Parecia que a coisa queria confundi-lo, mas o líder tirano não deixaria que nada o atrapalhasse, já sabia o que tinha que fazer, e nenhuma invasão o impediria.
O Justiceiro Exilado avistou o que veio buscar. O martelo estava na mão do homem que o procurava. Ainda não prevenido sobre o poder do Martelo de Dag, ele decidiu avançar. Correu com a espada empunhada em mão, a espada estava pronta para ofensiva e Warlok estava pronto para brandir a lâmina, até alcançar seu objetivo.
Namish viu um homem saltar na sua direção, com a espada em mãos. Tentou girar o martelo para acertá-lo, mas não conseguiu, foi lento demais. A espada acertou-lhe o braço esquerdo, a lâmina desceu do ombro ao antebraço, causando um corte que jorrava sangue. A espada só parou graças à armadura do antebraço, que forçou o combatente a afastar-se de Namish.
Warlok caminhou para trás, se afastando de Namish, e esperando uma investida. O homem de martelo na mão tentou acertar um chute, mas o Justiceiro se esquivou; tentou um soco, foi bloqueado pelas mãos do paladino; empurrou a mesa na direção do paladino, que deu um rolamento para o lado desviando da mesa. Por fim o homem girou o martelo, girou e girou por poucos segundos, e o martelo emanou chamas. O martelo brilhava, e a sensação de Warlok nos momentos anteriores ao lançamento do Martelo de Dag, foram de pura confiança, a confiança típica dos paladinos em combate. Mesmo sabendo que era uma arma especial, conseguia sentir que ganharia o embate.
Namish arremessou o martelo flamejante na direção do paladino. O martelo deixava um rastro de fogo por onde passava. O ruído do bloco de metal cortando o ar era impressionantemente alto. O Justiceiro Exilado se jogou para trás, foi em direção ao chão, e preparou-se para o baque. Quando o corpo tocou o chão, o martelo cortou o ar sobre sua cabeça e ouviu-se um estrondo, depois silêncio.
Namish viu o estrago, o martelo passou por cima do paladino, acertou uma parede no fundo do salão. Quando acertou a parede, o martelo a derrubou na hora. O impacto destroçou a parede, que foi ao chão, no exato momento que o Mestre da Tormenta e dois paladinos entraram. Um dos paladinos foi atingido na cabeça, por um bloco de mármore de caiu no momento do impacto. Foi ao chão, com a cabeça ensanguentada, com um
traumatismo craniano irreversível.
O mago olhava estupefato para o martelo, que começou a vibrar e foi em direção as mãos de Namish, que por reflexo segurou o martelo que emanava agora apenas fumaça. O Justiceiro levantou-se, nem precisou olhar para seu amigo, se pôs em uma posição ofensiva, pronto para vingar seu subordinado.
Autor: Matheus Ferreira de Jesus
Título: Aventura em Atlans (parte 2)
Subtítulo: A Invasão
Sobre o Autor: Leitor em primeiro lugar, escritor amador, Nerd apaixonado por RPG, Fantasia Medieval, Hiperfantasia, Ficção Cientifica, Universo Cyber Punk e Terror. Escrevo sobre todos os gêneros citados, tenho como objetivo levar a nostalgia para outras pessoas, a nostalgia de ler belas histórias e por estimular outras pessoas a lerem mais e até escreverem. Obrigado.