Artigo de Manoel Lemos, publicado na Info em 6/6/2012 – dica da @Myla_Multimidia
Passei uma semana, em maio, estudando no MIT. Entre uma aula e outra assisti à final de sua competição anual de startups, a MIT 100K. Tive várias surpresas durante o evento. A primeira foi saber que os Estados Unidos têm um CTO (Chief Technology Officer). Todd Park (abr.io/toddpark) subiu ao palco explicando por que é tão importante trazer para o governo a cultura do empreendedorismo e dos hackers. Um de seus focos é o uso de dados (big data) para melhorar áreas como saúde e segurança pública.
Outra surpresa foi ver que a maioria dos projetos finalistas não tinha nenhuma ligação com a internet ou a computação. Eram ideias muito simples dedicadas a resolver problemas em áreas tão diversas quanto medicina, embalagens, energia e piscicultura. Sim, o que vi ali era a manifestação da cultura hacker em sua essência. Aqueles estudantes aplicavam seus conhecimentos na melhoria de produtos ou para tornar a vida mais fácil e o mundo melhor.
Para evitar confusões, é importante salientar que não falo aqui de hackers que descobrem e exploram falhas de segurança em redes e em computadores. Mas, sim, daqueles que utilizam seus conhecimentos para explorar e modificar o mundo a seu redor. A ideia é que a filosofia hacker pode ser utilizada em todos os aspectos de nossa vida. Mas o mais interessante talvez fosse trazer isso para dentro do dia a dia das empresas. Seja alterando um pequeno processo interno, uma parte de seu produto, seja encontrando modos criativos de romper paradigmas. Para isso precisamos criar um ambiente que permita a esse tipo de pensamento florescer, coisa que a maioria das corporações ainda sofre para conseguir.
Hackeando a vida – O principio básico é que profissionais criativos e que conhecem os detalhes de sua atividade têm condições de confrontar modelos estabelecidos e buscar modos de entortá-los, sem quebrá-los, para conseguir resultados melhores. Mas o dia a dia nem sempre permite isso, e os incentivos em geral são em outra direção.
Voltando ao concurso do MIT. Um dos exemplos que mais chamaram a atenção foi o de um hack que aumentou a produção de fazendas de peixe em até 30%. Ou seja, hackeava-se a vida. A ideia era simples: fazendas de peixe não conseguem ovos de peixe o ano todo devido à sazonalidade da produção e à impossibilidade de congelar ovos para serem usados na entressafra. Assim, os estudantes conseguiram um jeito de hackear os ovos. Aplicaram neles um tratamento especial que torna suas membranas permeáveis a certo produto que, ao entrar neles, permite que sejam congelados sem serem danificados.
Outro hack legal foi o de um grupo que criou um revestimento interior especial para embalagens de alimentos que as torna superantiaderentes, permitindo que o que estiver armazenado seja facilmente retirado, como aquele fim de maionese que insiste em ficar no vidro. Uma ideia simples que pode economizar toneladas de alimentos. Hackear a criação de peixes ou a fabricação de embalagens é muito legal. Mas que tal pensar grande? A cultura hacker cabe em qualquer lugar e pode impactar de forma positiva a vida na Terra. E para isso precisamos de mais hackers. É preciso hackear medicina, educação, produção de energia, governo, produção de alimentos, acesso à internet. Hackers do mundo, uni-vos!