Terra quase foi destruída em julho de 2012

Em julho de 2012 a Terra escapou por pouco de uma tempestade solar que teria destruído completamente a nossa civilização como a conhecemos hoje. Seria um regresso forçado ao século XVII, um surto imenso de doenças e possíveis pandemias e um caos que reverteria qualquer avanço da humanidade em termos sociais. Mas nem você, nem eu ouvimos falar disso, e como escapamos, nem se fala mais no assunto.

Mas Baker, cientista da NASA e seus colegas de lá e de outras Universidades publicaram um estudo na revista Space Weather, em Dezembro de 2013, intitulado “Um grande evento de energia solar eruptiva de julho de 2012”. Nesse estudo, ele descreve sobre a poderosa ejeção de massa coronal (EMC) que atravessou a órbita da Terra em julho de 2012. Se a erupção tivesse acontecido com uma semana de antecedência, a Terra estaria na linha de fogo!!


Tempestades solares extremas representam uma ameaça para todas as formas de alta tecnologia. Começam como uma explosão solar. Depois, raios-X e radiação UV extremas chegam à Terra na velocidade da luz, ionizando as camadas superiores da nossa atmosfera; os efeitos dessas grandes erupções solares incluem apagões de rádio e erros de navegação GPS. Minutos ou horas mais tarde, as partículas energéticas chegam, movendo-se apenas um pouco mais lentamente do que a própria luz. Elétrons e prótons acelerados pela explosão podem danificar satélites e danificar todos os aparelhos electrônicos. Em seguida, vêm as ejeções de massa coronal (EMC), nuvens de bilhões de toneladas de plasma magnetizado que levam um dia ou mais para chegar até a Terra.

Um choque direto de uma EMC extrema, como a de 2012, que quase atingiu o nosso planeta, causaria apagões generalizados e a desativação de tudo o que se conecta a uma tomada de eletricidade ou que funcione eletronicamente. A maioria das pessoas nem sequer seriam capazes de ter água em casa, pois o abastecimento urbano de água de grande parte do mundo depende de bombas elétricas. Seria o regresso repentino a tempos medievais.

As erupções solares são explosões na superfície do Sol causadas por mudanças repentinas no seu campo magnético. A atividade na superfície solar pode causar altos níveis de radiação no espaço sideral. Esta radiação pode vir como partículas (plasma) ou radiação eletromagnética (luz). O Sol libera porções de energia eletromagnética quando uma gigantesca quantidade de energia armazenada em campos magnéticos, acima das manchas solares, explode, produzindo um forte pulso de radiação que abrange espectro eletromagnético, desde as ondas de rádio até os raios X e raios gama.

Os gases emergem da superfície e são lançados na coroa solar, onde atingem temperaturas de mais de 1,5 milhões de graus centígrados, formando arcos chamados anéis coronais, enormes bolhas de gases ionizados com até 10 bilhões de toneladas. Depois, esfriam e voltam a se chocar com o Sol a uma velocidade próxima a 100 quilômetros por segundo.

As ejeções de massa coronal, que são partículas de altas energias, lançadas no espaço interplanetário podem transportar 10 bilhões de toneladas de gás eletrizado e superam a velocidades de um milhão de quilômetros por hora. Quando atingem a Terra, a magnetosfera do planeta desvia a maior parte da radiação, mas uma parte pode chegar à atmosfera superior, causando as tempestades geomagnéticas. As erupções solares são classificadas de acordo com o seu brilho em raios X no intervalo de comprimento de onda que vai de 1 a 8 Ångstroms.

Existem três categorias de “erupções”:

– Erupções classe X: são importantes e grandes erupções que podem desencadear a suspensão de diversas atividades eletromagnéticas, suspender as transmissões das estações de rádio em todo o planeta e produzir tempestades de radiação de longa duração.
– Erupções classe M: são erupções de média intensidade que afetam as regiões dos pólos e rápidos bloqueios nas emissões radiofônicas.
– Erupções classe C: são pequenas erupções e não afetam o planeta.

Há décadas que os cientistas (especialmente da NASA) descobriram que a atividade solar obedece uma certa ciclicidade, com um clímax a cada 11 anos: o próximo seria esperado em finais de 2013. No entanto desde 2012 que a atividade do Sol não corresponde aos ciclos e nega por completo toda a investigação anterior. Por alguma razão (e há várias hipóteses) o Sol deixou de seguir o seu ciclo normal de onze anos tendo reações anuais só registadas ao longo de 11 anos e desta forma no final de 2013 e agora em 2014 o Sol começa a apresentar características assustadoras.

O icônico Evento de Carrington, de setembro de 1859, provou para a humanidade que as tempestades solares não têm piedade da tecnologia. Uma série de EMCs poderosas se chocaram de frente com a Terra com uma potência jamais vista. Tempestades geomagnéticas intensas ascenderam auroras até o sul de Cuba, além de interromper os telégrafos de todo o planeta e incendiar grande parte deles. Acredita-se que a tempestade de julho de 2012 era ainda mais intensa do que o Evento de Carrington, mas por sorte, a Terra conseguiu escapar.


O que mais preocupa os cientistas e astrônomos é o fato de que, em 1859, basicamente toda tecnologia que tínhamos não sofria influência de pulsos eletromagnéticos. Atualmente, tudo que utilizamos no nosso dia a dia depende diretamente da energia elétrica e dos satélites geoestacionários. Poderíamos ficar sem energia elétrica, internet e sistemas de rádio e GPS, provavelmente por mais de dois anos, o que seria um caos generalizado.

De acordo com um estudo realizado pela Academia Nacional de Ciências, o impacto econômico total poderia exceder os 20 trilhões de dólares, cerca de 200 vezes maior do que os custos de um furacão Katrina. Transformadores multiton danificados por uma tempestade geomagnética podem levar anos para serem recuperados.

“Na minha opinião, a tempestade de julho de 2012 foi em todos os aspectos, pelo menos tão forte quanto o Evento de Carrington em 1859”, diz Baker. “A única diferença é que em 2012 nós escapamos”.

O que o futuro nos reserva?

Em fevereiro deste ano, o físico Pete Riley da Predictive Science Inc. publicou um artigo na revista Space Weather intitulado “Sobre a probabilidade de ocorrência de eventos climáticos extremos no espaço”. Nela, ele analisou os registos de tempestades solares dos últimos 50 anos. De acordo com a frequência de tempestades comuns e de tempestades extremas de classe Carrington, ele fez uma previsão sobre as chances da Terra ser atingida por uma tempestade aniquiladora nos próximos 10 anos. A resposta: 12%.

“Inicialmente, fiquei bastante surpreso que as chances eram tão altas, mas as estatísticas parecem estar corretas. É uma previsão sóbria”

Se o trabalho de Riley estiver correto, há uma chance de 12% de que a Terra venha a enfrentar um grande desastre tecnológico nos próximos 10 anos. E como o próprio autor do estudo diz, é preciso estar preparado.

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Posted by Wladimir

Nerd desde sempre. Começou a programar em Basic, em um CP 400 Color II lá por 1985. Fã de Star Wars, Star Trek e outras séries espaciais. Pai de 4 filhos - um era pra se chamar Linus, mas o nome encontrou muita resistência :( Aliás, software livre é outra paixão. Usuário Linux desde 1999. Presidente da Associação Software Livre Santa Catarina. Defensor do livre compartilhamento. É o compartilhamento que tem feito a humanidade avançar. As ideias são uma construção coletiva da humanidade :) Foi fundador do Partido Pirata do Brasil e membro de sua 1ª Executiva Nacional (2012-2014). Foi também assessor do gabinete do Ministro da Ciência e Tecnologia durante 2016, até a efetivação do golpe que destituiu Dilma Rousseff. Ah, também é editor aqui dessa bagaça, onde, aliás, você também pode colaborar. Só entrar em contato (42@nerdices.com.br) e enviar suas dicas, artigos, notícias etc. Afinal, a Força somos nós!

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