Flappy Bird deu o que falar nas últimas semanas. Qualquer pessoa com o mínimo de tempo gasto na internet ouviu falar do game, desenvolvido pelo vietnamita Dong Nguyen em maio de 2013 e causador de crises nervosas devido à dificuldade, apesar de sua extrema simplicidade – é só fazer o passarinho voar por entre os canos (mais fácil dito que feito).
Um pequeno resumo do turbilhão de informações que envolveu o jogo nos últimos dias. Por algum motivo desconhecido, o game estourou nas lojas de aplicativos móveis. Grátis, foi baixado por milhões de pessoas e logo se tornou célebre. Seu autor disse em entrevista ter embolsado US$ 50 mil por dia apenas com anúncios depois do jogo ter estourado. Depois, tirou sua criação do ar por ser “viciante demais“. A história termina aí. Ou deveria ter terminado, pois durante esse curto período de fama, e também um pouco depois, o game permaneceu na mídia. Alguns exemplos:
– tentaram envolver a Nintendo no caso;
– surgiram cópias (aqui e aqui) para que ninguém sentisse saudades;
– leiloaram telefones com o jogo instalado a preços exorbitantes;
– foram feitas paródias, inclusive uma com tema brasileiro e um MMO;
Ufa. Tudo isso por causa de um passarinho – e ele nem é bravo e faz ataques suicidas contra porcos verdes. Um passarinho que em seu curto tempo de vida, em sua escalada relâmpago e sua decadência ainda mais precoce diz muito a respeito de algumas características e dinâmicas do ambiente onde foi momentaneamente eternizado, o mobile.
As questões sobre porque Flappy Bird fez tanto sucesso são muitas, mas há um ingrediente que se destaca nessa mistura: o game é simples de entender e fácil de jogar. Sem profundidade, sem complexidade, sem elementos apelativos. Uma mecânica das mais básicas, até convidativa, que permite que qualquer um jogue. Não que todos os jogos para celulares e tablets tenham de seguir essa fórmula, mas é essa simplicidade, em maior ou menor grau (vide os outros pássaros, os Angry Birds), que faz títulos explodirem no mobile, lugar de jogos casuais, consumidos por quem aguarda o ônibus ou sua vez no médico, por quem quer gastar cinco minutos e depois abandonar o game. Flappy Bird é o tipo de jogo que atrai por não exigir muita habilidade de seus jogadores, apenas altas doses de paciência.
Mas um ponto bastante discutido e que colocou em ebulição os ânimos dos críticos do game foi o fator “falta de criatividade”, para não dizer plágio, em vários sentidos. A história do envolvimento da Nintendo teria a ver com os canos dos quais o pássaro desvia, visivelmente inspirados nos modelos usados nos jogos do Mario, além do cenário. Houve também quem apontasse Flappy Bird como uma cópia de um clássico jogo de helicóptero da web ou do Piou Piou, título que está disponível nas lojas de aplicativos desde 2011. Isso revoltou a comunidade de desenvolvedores, que quebram a cabeça para fazer um game original e tentam fazê-lo algo rentável e viram alguém juntar uma série de elementos já prontos para dar origem a um caça-níqueis. Esse é o ingrato mundo dos jogos mobile, que abriga uma concorrência feroz de criações “irmãs” onde apenas uma, duas ou mesmo nenhuma sai como vencedora e onde originalidade não necessariamente é sinônimo de popularidade.
Agora, Flappy Bird é o assunto do momento. Mas é só por enquanto. Candy Crush Saga também teve seu momento e, embora ainda seja amplamente jogado por aí, foi destronado por outros games e perde adeptos diariamente. A hora do passarinho também vai chegar, como acontece e acontecerá com todo jogo mobile. Com essa árdua concorrência, cedo ou tarde alguém chega com uma ideia mais agradável para o momento e toma o topo do ranking da App Store e do Google Play, caindo nas graças do povo, que está interessado tão somente em joguinhos divertidos e não desenvolve qualquer fidelidade a eles. Flappy Bird foi um caso à parte que tomou proporções inimagináveis devido à ação da imprensa, mas não é exceção: é mais uma efemeridade na vida de quem tem um aparelho móvel.
Esses são alguns dos motivos pelos quais é possível explicar o universo de games mobile por meio de um único jogo. Nada incomum para uma plataforma na qual qualquer um pode desenvolver e publicar seu próprio título e que tem uma dinâmica bastante diferente das plataformas convencionais, como os consoles e os computadores. Mas trata-se de um ambiente em constante transformação e ainda muito novo, deixando espaço para experiências e inovação. Que Flappy Bird seja mais que uma nota de rodapé e que seja encarado como uma lição para quem quer entender e investir em mobile.
artigo publicado originalmente aqui.