Tobias Andersson, um dos criadores do site de compartilhamento The Pirate Bay, foi um dos palestrantes do primeiro dia da 14ª edição do Fórum Internacional Software Livre, realizado em Porto Alegre (RS). Para ele, as gravadoras são “pequenas” hoje em termos de processos por copyright. O sueco argumenta que as indústrias de carros e petróleo, entre outras, irão travar uma batalha mais forte contra a cultura livre após a revolução que as impressoras 3D vão trazer ao mundo.
“Daqui a uns 10 anos, vamos poder imprimir plástico e metal, e o custo desses equipamentos será de apenas algumas centenas de dólares. Todos terão uma impressora 3D em casa. Vamos poder imprimir peças para os nossos carros”, explica. Quando chegar esse momento, continua ao Terra, as grandes indústrias tentarão evitar todo tipo de conteúdo livre.
Para Andersson, é neste momento que será mais crucial do que nunca ter uma comunidade unida. “Não vai poder ser apenas alguns ativistas independentes lutando e indo para a cadeia”, continua, mencionando processos multimilionários.
E de processos, ele entende bem. Foi obrigado a aprender. Encarou as justiças de diferentes países por causa do conteúdo compartilhado através do site que ajudou a tirar do papel. “Por motivos legais, preciso avisar que há 4 anos não tenho nada a ver com o Pirate Bay”, disse ao iniciar a participação no debate do fisl nesta quarta-feira, em Porto Alegre.
Livro
A experiência que Andersson e os colegas tiveram à frente do Pirate Bay está prestes a virar livro. Em 2013, o site completa uma década de vida, e o aniversário virou mote para contar essa história, que tambem é assinada por Mattias Gunell.
“A história do site vai ser o pano de fundo para discutirmos os quetionamentos que temos desde a criação do site”, resume Gunell ao Terra. “Os julgamentos, o que aprendemos, as informacoes que reunimos e nos permitem olhar melhor para o futuro”, lista Andersson.
A produção da obra teve início neste ano e ainda não tem data para lançamento – os autores acreditam que em 2014 ela chegue ao público. E estará disponível no Pirate Bay, gratuitamente? “Estamos indo pelas vias tradicionais, buscando uma editora, mas esperamos que tenha versão digital”, diz Andersson.
Para mudar o mundo
O autor adianta alguns dos tópicos que pretende abordar, como a autonomia do público para lutar contra a propriedade intelectual. “Hoje qualquer um pode fazer qualquer coisa. Nós (do Pirate Bay) não somos gênios, o que fizemos qualquer um poderia ter feito”, diz. “A única coisa que exige é trabalho duro”, completa Gunell.
Outro aspecto que os dois abordarão na história sobre a primeira década de vida do site de compartilhamento – hoje um dos 60 endereços mais acessados de toda a web – é a relação entre revolução e políticos. “Nunca conte com políticos”, resume Andersson.
Ele dá dois motivos. Para começar, políticos não conseguem acompanhar o ritmo de evolução da tecnologia. “A lei está sempre ao menos cinco anos atrasada”, ilustra. “Depois, políticos estão presos ao sistema. Quando se age independentemente, é possível determinar a própria agenda de assuntos dentro do que interessa”, enumera.
Mas Andersson e Gunell reforçam que políticos não são a mesma coisa que política. “O que fazemos no Pirate Bay é política”, lembra o primeiro. Os dois apoiam as iniciativas dos partidos Pirata ao redor do mundo – embora não sejam filiados a nenhum deles -, mas alertam que não se deve esperar que “as pessoas que estão no poder mudem as coisas”.
Questionado sobre que dica daria para alguém que quisesse entrar na luta, Andersson opta pela simplicidade. “Tente olhar para o futuro e prever o que vai acontecer.”
Dez anos de pirataria
Na palestra do fisl, o cocriador do Pirate Bay contou alguns detalhes da história do site. A ideia veio de um thinktank – encontro de ideias – do grupo Escritório de Pirataria, criado em 2002. “Ninguem queria falar sobre o assunto, e nós queríamos, não acreditávamos em propriedade intelectual. Além disso, o governo tinha um Escritório Anti-pirataria, e se tinha um ‘anti’, criamos um a favor”, contou Andersson ao auditório lotado.
Na época, a expectativa era durar no máximo dois anos, como outros softwares de compartilhamento, como Kazaa e Napster. “Por dois anos o site só tinha versão em sueco, e era engraçado porque um dos torrents mais baixados era um curso de sueco. As pessoas tentavam aprender para poder usar o site”, lembra. Depois, o Pirate Bay estreou em 20 idiomas.
Quando vieram os problemas, os processos e as ameaças de multa e prisão, o grupo decidiu seguir o caminho inverso de sites semelhantes. “Outros deletaram os torrents ou deixaram de existir. Nós pensamos, ‘por que deveríamos fazer isso? Queremos uma internet livre'”, concluiu.
fonte: Terra