Você conseguiria se imaginar quatro anos sozinho numa ilha, apenas ao lado de ratos, gatos e bodes? A experiência pode não ter sido agradável, mas eternizou o homem que sobreviveu a essa situação e que serviu de inspiração ao clássico personagem Robinson Crusoé, de Daniel Defoe.
A ficção foi inspirada na vida de Alexander Selkirk, o sétimo filho de um sapateiro, nascido em 1676, em Fife, na Escócia. Quando tinha 19 anos, Selkirk decidiu fazer sua vida no mar, como corsário, um tipo de pirata “legalizado” pelo rei para atacar navios espanhóis na América do Sul.
Em pouco tempo, Selkirk desenvolveu habilidades e se tornou o mestre do navio Cinque Ports, que possuía seis canhões e pesava 90 toneladas. Sua expedição foi desastrosa. O capitão do navio era um tirano e, após algumas lutas com espanhóis, o barco estava muito danificado. A solução foi parar na ilha mais próxima para reparos e suprimentos. No caso, pararam em Más a Tierra (hoje conhecida como Ilha Robinson Crusoé), no arquipélago de Juan Fernandez, a 650 km da costa do Chile.
Selkirk disse que seria muito perigoso seguir viagem em um navio tão avariado e tentou convencer seus companheiros a ficarem na ilha. Não conseguiu e, em setembro de 1704, foi largado por ali. Apesar da decisão radical no momento, ela se mostrou acertada adiante, pois o Cinque Ports precisou parar na região da atual Colômbia. Parte da tripulação morreu afogada, e os sobreviventes foram encarcerados e açoitados pelos espanhóis em uma prisão em Lima, hoje capital do Peru.
500 bodes
Sozinho, Selkirk acreditava que seria logo resgatado. Mas passaram-se dias, meses e anos. O marinheio tinha somente roupas, um colchonete, uma espingarda, ferramentas, uma Bíblia e tabaco. Sua vida na ilha deserta era ao lado de ratos, bodes e gatos – o marinheiro afirmou que matou cerca de 500 bodes e usava o pelo dos animais como roupas. Ele também alimentava os gatos para que comessem os ratos que o infernizavam à noite na hora de dormir.
Durante seu tempo isolado, Selkirk disse que correu risco de morte em duas ocasiões: uma quando caçava um bode e caiu de um penhasco, ferindo-se gravemente; e outra quando foi avistado por um barco espanhol e a tripulação foi à ilha procurá-lo. Selkirk conseguiu se esconder e os espanhóis partiram.
Resgate
Finalmente, em 1° de fevereiro de 1709, dois corsários britânicos avistaram o náufrago. Selkirk acendeu o sinal de fogo para alertar os navios, que despacharam um grupo de desembarque que ficou bastante surpreso ao encontrar um “homem selvagem vestido com peles de cabra”. Era o fim de uma temporada de quatro anos e quatro meses de isolamento na ilha.
Após a experiência, Selkirk retomou sua carreira de corsário, fazendo riqueza. Em 1712, voltou à Escócia e surpreendeu seus familiares que o davam por morto. Em 1713, publicou um relato de suas aventuras que serviram de inspiração ao romance “Robinson Crusoé”, publicado seis anos depois.
Selkirk, no entanto, não viu o romance se tornar um clássico. Pouco depois da publicação de Defoe, ele entrou para a Marinha Real e morreu de febre na costa da África, em Gana, no dia 13 de dezembro de 1721.
Fontes: Smithsonian Mag , BBC
Foto: Sylvia Stanley