Algo de estranho se passa num mundo a 363 anos-luz de nós, na constelação de Centauro. Até agora os cientistas acreditavam que os sistemas planetários se formavam através de um disco de gases e poeira que orbitava uma estrela recém-formada, como um vinil a rodar num gira-discos. Mesmo quando os planetas já estavam formados, os astrónomos defendiam que durante milhões de anos seria possível observador vestígios desse disco, que era como um berço de planetas. Acontece que os cientistas do Instituto Max Planck encontraram um planeta muito jovem, com 14 milhões de anos, a orbitar uma estrela sem sinais de um disco protoplanetário que possa ter dado origem a esses corpos celestes. Isso põe em causa todo o modelo de formação de planetas em que a ciência se baseou, até porque um planeta tão massivo devia ter nascido de uma nuvem de gás e poeira muito denso em rotação. E esta não é a única característica estranha deste mundo.
First discovery of an exoplanet by SPHERE – HIP65426b is 385 ly from our system and 14 billion km from own star https://t.co/UJTvRuhnxc pic.twitter.com/98XNoGd1g6
— The SETI Institute (@SETIInstitute) 7 de julho de 2017
HIP65426b é um planeta gigante com seis a doze vezes a massa de Júpiter: se o nosso gigante gasoso tivesse a massa de uma laranja, este exoplaneta “pesaria” o mesmo que um tijolo. Tem pelo menos 1.327ºC e orbita a sua estrela uma vez a cada 600 anos terrestres, isto porque está 92 vezes mais longe da HIP65426 do que a Terra está do Sol: ou seja, a três vezes a distância entre Neptuno e o Sol. Para chegar até ele teríamos de viajar durante 363 anos à mesma velocidade da luz.
Este foi o primeiro planeta descoberto pelo SPHERE, um instrumento do Very Large Telescope montado no Chile com o selo do Observatório Europeu do Sul, que conseguiu uma imagética direta, uma forma muito rara de encontrar corpos celestes para lá do Sistema Solar. Primeiro, encontrou vapor de água e nuvens avermelhadas muito parecidas às que vemos em Júpiter. A seguir, viu também também uma atmosfera a partir da qual espera estudar melhor o tamanho das partículas que a compõem e a sua composição química. Só não viu sinal da origem de HIP65426b. E isso fez os cientistas franzirem as sobrancelhas.
Mas não é apenas HIP65426b que tira o sono aos cientistas: a estrela que ele orbita, a HIP65426, também é muito peculiar. É uma estrela do tipo A2 com duas vezes a massa do Sol e quase 3.000 ºC mais quente. À semelhança do Sol, também HIP65426 gira em torno dela própria, mas com uma característica estranha: é 150 vezes mais veloz do que o Sol nesse movimento de rotação, algo estranho para uma estrela que não está na influência do campo gravitacional de outra estrela. Esta é outra característica que contraria o modelo de formação dos planetas aceite pela comunidade científica até agora. E que pode colocar em causa tudo o que julgamos saber sobre a origem do nosso próprio Sistema Solar.
Entretanto, os cientistas já têm uma teoria que pode explicar o estranho mundo de HIP65426b. É possível que este planeta tenha sido formado muito mais perto da sua estrela ao mesmo tempo que outro planeta massivo nascia. Durante os primeiros anos da vida, HIP65426b pode ter-se aproximado tanto do seu planeta-irmão que foi empurrado para a posição que ocupa hoje. Enquanto isso, o outro planeta pode ter-se aproximado da estrela e iniciado uma “dança” que fez com que ela começasse a girar tão depressa. Esse planeta pode então ter sido consumido pela estrela, daí que não o vejamos agora.
Fonte: observador