O Atacama Large millimeter Array (ALMA) uniu-se ao Hubble Space Telescope para fotografar a Nebulosa do Bumerangue, uma protonebulosa planetária na constelação de Centaurus, a 5 mil anos-luz da Terra. Este é o objeto mais gelado conhecido no inverso. Gases liberados pela estrela que está morrendo alcançam -272,6°C.
Enquanto o ALMA captou a nebulosa alongada, o telescópio Hubble captou o brilho roxo no fundo.
Essa temperatura seria suficiente para congelar o hidrogênio na Terra – mas ainda está alguns poucos graus acima do que é considerado o “zero absoluto” – o ponto mais frio possível (-273,15°C).
A Nebulosa do Bumerangue
Esta nuvem é um dos objetos mais misteriosos do universo. Os astrônomos acreditam que a temperatura cai para algo apenas meio grau acima do zero absoluto. Até onde sabemos, este é o ponto mais frio do universo.
Justamente por isso, muitos astrônomos se debruçam sobre esse tema. Alguns acreditam que ele pode ajudar a explicar várias dúvidas – como sobre a formação de galáxias e explosões cósmicas.
Morte das estrelas, nascimento da vida
A morte de estrelas é um fenômeno comum no universo. Daqui a alguns anos, o nosso Sol também vai esgotar seu combustível nuclear, se esfriar e expandir – ao ponto de absorver Mercúrio, Vênus e talvez até mesmo a Terra.
Após uma série de processos, o Sol vai virar uma anã-branca, diminuindo até atingir aproximadamente o tamanho da Terra.
A morte das estrelas tem um papel fundamental no surgimento da vida. Astrônomos já sabem há bastante tempo que elementos como carbono, oxigênio e ferro são fundidos dentro do núcleo das estrelas. Quando elas morrem, esses elementos são distribuídos pela galáxia.
Essa distribuição de elementos – sobretudo da morte de estrelas muito maiores do que o Sol – é que ajuda a formar rochas, planetas e até mesmo a vida.
Nebulosa especial
O processo acontece em vários lugares do universo. Mas a Nebulosa de Bumerangue é especial. Cientistas estão conseguindo observá-la em fase anterior ao de se tornar uma “nebulosa planetária” – que é um dos estágios da morte das estrelas.
Os astrônomos Raghvendra Sahai, da Nasa, e Lars-Ake Nyman, do telescópio ALMA, no Chile, descobriram que o gás que é liberado pela nebulosa flui a uma velocidade de 164 quilômetros por segundo – dez vezes maior do que o normal observado até hoje – e 4 mil vezes mais rápida que um trem-bala.
Essa velocidade de liberação de energia explica porque a Nebulosa de Bumerangue é tão fria.
A velocidade de liberação é tão alta que fica difícil até mesmo para a radiação cósmica de fundo de microondas conseguir esquentar um pouco o ambiente. Com a exceção de algumas condições criadas especialmente em laboratórios na Terra, não existe nenhum lugar mais frio em todo o universo.
Sahai já havia teorizado sobre essa possibilidade antes mesmo da descoberta empírica. Ao analisar osdados da Bumerangue, ele descobriu que suas previsões feitas há 20 anos estavam se materializando.
“Fiquei todo arrepiado. Foi um dos momentos mais emocionantes da minha carreira“, conta.
Mas mesmo observado o fenômeno, os astronomos ainda não sabem explicá-lo.
O que ninguém consegue explicar é o porquê da velocidade extrema de 164 quilômetros por segundo. A estrela dentro da Bumerangue não é brilhante o suficiente para produzir esta quantidade de energia.
Muitos outros mistérios persistem.
Sahai e seus colegas ainda vão realizar novas observações ainda este ano. Em algumas regiões, o gás expelido flui a 35 quilometros por segundo. Os astrônomos querem mapear em detalhes por que o gás flui a velocidades diferentes em pontos distintos.
“Esses objetos não são apenas bonitos. Eles são cheios de segredos“, diz Soker.
Fonte: BBC