O mundo está à beira de uma epidemia de Peste Negra?

O sinal de alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) está acionado. Desta vez, não é por conta do Ebola, mas de um possível novo surto da peste bubônica, em Madagascar, país insular da costa sudeste da África. De acordo com um comunicado da OMS, até o final do ano passado, foram confirmados ao menos 119 casos da doença, incluindo 40 mortes. “O surto que começou em novembro passado tem algumas dimensões preocupantes”, disse a OMS, na última semana de janeiro. “As pulgas que transmitem esta doença de ratos para os seres humanos desenvolveram resistência aos inseticidas de primeira linha.” Os especialistas informam que a peste está se espalhando, principalmente, em favelas densamente povoadas na capital de Antananarivo.

A doença é causada pela Yersinia pestis, uma bactéria encontrada em roedores e transmitida por pulgas. Caso uma pulga infectada pique uma pessoa, ela poderá desenvolver a peste bubônica, que tem com principal sintoma o inchaço dos gânglios linfáticos. Se as bactérias atingem os pulmões, o paciente pode desenvolver a peste pneumônica, o que é mais raro. Caso isso ocorra, a doença é ainda mais perigosa, porque pode ser transmitida entre humanos pela inalação e tosse.

“Caso diagnosticada precocemente, a peste bubônica pode ser tratada com sucesso com antibióticos”, disse a Organização Mundial da Saúde. “A pneumônica, por outro lado, é uma das doenças infecciosas mais mortais; os doentes podem morrer 24 horas após a infecção.” Pelo menos 8% dos casos podem avançar para a peste pneumônica, disse a OMS.

Foi a mais mortal das epidemias. Entre 1347 e 1351, a peste negra dizimou metade da população europeia.

Embora haja desacordo, as estimativas são de 75 a 200 milhões de mortes. Estudiosos mais conservadores estimam que a população mundial de 450 milhões teria caído para 350 a 370 milhões.

A bactéria causadora da epidemia teve origem na China ou na Ásia Central, de onde viajou pela rota da seda, nos intestinos das pulgas que infestavam os ratos. Chegando ao Mediterrâneo, os ratos se encarregaram de levá-las para os navios, que disseminaram a doença pelos portos em que atracavam.

Relatos históricos dão conta do sofrimento humano. O poeta Boccaccio, que viveu em Florença nessa época, fez a seguinte descrição:

“Em homens e mulheres, ela se manifesta pela emergência de certos tumores nas virilhas e axilas, alguns dos quais chegam ao tamanho de uma maçã; outros, ao de um ovo… Dessas duas regiões do corpo esses tumores mortais logo começam a propagar-se e a espalhar-se em todas as direções; depois disso, a apresentação se modifica, em muitos casos manchas negras ou lívidas aparecem nos braços, nas coxas e outras partes, de início poucas e grandes, mais tarde pequenas e numerosas. Assim como os tumores, as manchas negras são sinais infalíveis de que a morte se aproxima daqueles nos quais se manifestam”.

Faltou dizer que a febre atingia 41 graus, os vômitos eram sanguinolentos, e que alguns desenvolviam complicações pulmonares, enquanto outros se curavam espontaneamente. Cerca de 80% iam a óbito em uma semana, proporção que aumentava para 90% quando havia comprometimento pulmonar e beirava 100% nos casos de septicemia.

 

As explicações para as epidemias de peste que já afligiam a Europa nos tempos de Justiniano, no século 8, eram imaginativas: conjunção de três planetas que espalharia pestilência no ar, terremotos, mendigos, peregrinos, estrangeiros, envenenamento dos poços de água pelos judeus (sempre eles), suposições que justificavam massacres sangrentos.

Foi apenas em 1894, quando um grupo de bacteriologistas visitou Hong Kong, que o agente etiológico, a Yersinia pestis, foi identificado por Alexandre Yersin.

Curiosamente, mesmo antes dos antibióticos, os casos mais recentes de peste não provocavam mortalidade elevada. As bactérias daqueles tempos seriam mais virulentas ou as pessoas mais fracas e desnutridas?

O advento de técnicas modernas de sequenciamento de DNA tem ajudado a decifrar essa questão. Um grupo de canadenses e americanos extraiu o DNA encontrado em dentes e ossos de pessoas enterradas no cemitério de East Smithfield, em Londres, última morada das vítimas da peste do século 14.

Em 2011, os resultados publicados na revista Nature mostraram que a Yersinia pestis daquela época está extinta, de fato. O genoma desse ancestral, no entanto, é bastante similar ao da bactéria de hoje.

Trabalhando com amostras antigas e recentes da bactéria, outros grupos observaram que a peste europeia foi causada por uma das 11 cepas que já circulavam na época de Justiniano. Entre os séculos 6 e 8, teria ocorrido um “big bang” de diversidade entre as yersínias, surgindo cepas novas dotadas de agressividade variável.

De acordo com esse modelo, deslocamentos humanos como os das Cruzadas e outras guerras, teriam criado pressões seletivas para que as bactérias se adaptassem rapidamente a ambientes estranhos e novos hospedeiros. Nessa luta pela sobrevivência, teriam levado vantagem as yersínias mais virulentas.

A partir de 1351, quando a epidemia europeia arrefeceu, a cepa virulenta que lhe havia dado origem pôde replicar-se com menos frequência, tornando-se mais estável, portanto mais semelhante às que circulam hoje entre seres humanos e roedores.

A pergunta que fica é: será que desta vez a comunidade internacional irá se movimentar rapidamente para conter esse novo surto da peste? Ou poderemos ver o mundo, novamente, em estado de alerta, como aconteceu com o Ebola? O vídeo do especial Pandemia mostra a cronologia desta “epidemia anunciada”:

 

Fontes: CNNOMS e Dr. Dráuzio Varella

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Posted by Wladimir

Nerd desde sempre. Começou a programar em Basic, em um CP 400 Color II lá por 1985. Fã de Star Wars, Star Trek e outras séries espaciais. Pai de 4 filhos - um era pra se chamar Linus, mas o nome encontrou muita resistência :( Aliás, software livre é outra paixão. Usuário Linux desde 1999. Presidente da Associação Software Livre Santa Catarina. Defensor do livre compartilhamento. É o compartilhamento que tem feito a humanidade avançar. As ideias são uma construção coletiva da humanidade :) Foi fundador do Partido Pirata do Brasil e membro de sua 1ª Executiva Nacional (2012-2014). Foi também assessor do gabinete do Ministro da Ciência e Tecnologia durante 2016, até a efetivação do golpe que destituiu Dilma Rousseff. Ah, também é editor aqui dessa bagaça, onde, aliás, você também pode colaborar. Só entrar em contato (42@nerdices.com.br) e enviar suas dicas, artigos, notícias etc. Afinal, a Força somos nós!

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