Uma cuidadosa e paciente análise de imagens do local, em Marte, onde o robô Beagle 2 deveria ter pousado, põe fim a um mistério que dura desde o final de 2003 sobre o seu destino. E permite concluir que o problema não foi uma aterrisagem falha, como se pensava até agora, mas uma falha no desdobramento dos seus painéis solares, anunciou em comunicado a Agência Espacial Europeia (ESA).
O Beagle 2 foi construído pelo Reino Unido e viajou para Marte a bordo da sonda Mars Express da ESA. Deveria ter aterrisado na superfície marciana em 25 de dezembro de 2003, mas nunca enviou notícias para a Terra. Foi dado como oficialmente perdido em 11 de fevereiro de 2004.
Em 2005, a agência espacial norte-americana NASA lançou a sua sonda Mars Reconnaissance Orbiter. E a partir de 2006, a câmera de alta resolução a bordo deste satélite, a HiRISE, começou a fotografar a superfície de Marte. São essas fotos que a equipe do Beagle 2, em colaboração com a NASA, tem estudado a analisado há anos, numa procura que culminou agora com a descoberta do robô desaparecido.
As pequenas dimensões do robô – menos de dois metros de envergadura com os seus painéis solares abertos – poderiam ter comprometido a sua detecção, tanto mais quanto o Beagle 2 se encontra “numa configuração [só] parcialmente desdobrada”, lê-se num comunicado a Universidade de Leicester (Reino Unido), cujos cientistas participaram na sua construção. Mas mesmo no limite do seu poder de resolução, a HiRISE permitiu identificar imagens de um objeto “compatíveis com o tamanho e a forma do robô” a menos de cinco quilômetros do centro da zona de aterragem prevista.
O problema com os painéis solares, refere ainda o documento, “pode explicar por que nunca foram captados quaisquer sinais ou dados vindos do robô, na medida em que teria sido preciso que os painéis solares estivessem totalmente abertos para que a antena do robô ficasse exposta e fosse capaz de transmitir e receber dados”.
Para os envolvidos, a descoberta do Beagle 2 prova que o robô conseguiu efetivamente pousar em Marte. “Beagle 2 foi mais bem sucedido do que pensávamos”, diz David Parker, da agência espacial britânica, citado no mesmo documento.
“Fico encantado por termos finalmente encontrado o Beagle 2 em Marte”, diz Mark Sims, da mesma universidade britânica, que participou no projeto desde o início. “Desde 2003 que, todos os Natais, eu me perguntava o que teria acontecido. O meu Natal de 2003 e o de muitos outros que trabalhavam no Beagle 2 foi estragado pela desilusão perante o silêncio do robô. E, para ser sincero, já tinha desistido de algum dia vir a saber o que ocorreu.” O líder do projeto, Collin Pillinger, da Universidade Aberta britânica, morreu em Maio de 2014.
fontes: BBC News e Público PT