Para criador do popular sistema de criptografia de e-mails e VoIP, vigilância estatal aumentou muito e mais rápido que esperava.
Há público para o Blackphone?
Estamos tendo uma resposta muito positiva. Os vazamentos do Snowden estão tornando todos mais conscientes dos atuais problemas de privacidade. Eu mesmo estou impressionado com as práticas da NSA (Agência de Inteligência americana). Mas eles não serão resolvidos só com tecnologia. Precisaremos de políticas públicas e novas leis, de todos os governos, não só do americano.
O que torna o Blackphone diferente dos demais?
Ele parte de uma ideia que tive em 1999, que é fazer um celular seguro com VoIP encriptado. Entretanto, a tecnologia para colocar a ideia em prática só chegou agora. O lançamento será em Barcelona, na Mobile World Congress, em fevereiro e ele ficará disponível para todos os países, inclusive o Brasil.
O Google funciona nele?
Sim, a opção fica com o usuário. Mas tentamos mostrar que o Google não é gratuito à toa. Ele coleta dados para vender para anunciantes, e isso é a raiz do problema. É algo que não podemos mudar porque é parte do modelo de negócios dessas empresas. Governos se aproximam dessas empresas e usam suas informações. Uma saída é encorajarmos essas empresas a mudar seus modelos de negócio, cobrando por seus serviços. Para usar o Silent Circle cobramos US$ 10 por mês e isso sustenta o negócio. Assim não coletamos e não vendemos seus dados – isso é hipotético, pois não temos nem como coletar os dados, nem sabemos quem são nossos usuários. É um esquema “passa a grana e ninguém se machuca”.
Tecnologias serão majoritariamente seguras um dia?
Difícil. O monitoramento estatal é muito forte. Estou na Inglaterra e aqui há mais câmeras com reconhecimento facial nas ruas do que nos EUA. É um novo elemento do Estado de vigilância, e não se resolve com criptografia. Na China é ainda pior. E a tendência é de que o mundo se torne uma grande China. As coisas ficaram piores mais rápido do que esperava. Quando fiz o PGP, falei sobre o perigo de ter a comunicação eletrônica interceptada um dia. Era 1991.
fonte: Link Estadão