Cientistas russos anunciaram que, a partir da descoberta de sangue na carcaça de um mamute-lanudo, encontrado em 2013 e que ficou preservado no solo congelado numa ilha do Ártico – aumentam as hipóteses de se conseguir clonar este animal extinto há cerca de dez mil anos, no período Mesolítico.
A expedição aconteceu em maio de 2013. Formada por especialistas da Sociedade de Geografia russa e da Universidade Federal do Nordeste, em Iakoutsk, na Sibéria, foi examinar a carcaça bem conservada de uma fêmea de mamute-lanudo. Tinha sido localizada em agosto de 2012 no solo permanentemente congelado, ou permafrost, na ilha de Mali Liakhovski, no oceano Ártico russo.
O animal teria cerca de 60 anos de idade quando morreu e estaria morto entre 10.000 a 15.000 anos, indicou à agência AFP o chefe da expedição, Semion Grigoriev, que qualificou a descoberta de excepcional.
“Todos os anos têm sido descobertos mamutes [na Rússia]. Mas esta expedição permitiu encontrar pela primeira vez uma fêmea em muito bom estado de conservação”, referiu o cientista russo, numa entrevista telefônica.
A observação da carcaça congelada permitiu fazer uma descoberta ainda mais excepcional: continha tecidos dos músculos e sangue preservados.
“Quando perfuramos o gelo no seu ventre, o sangue escorreu, muito escuro. É o caso mais espantoso que vi em toda a minha vida”, declarou Semion Grigoriev.
O cientista russo atribui esta descoberta às condições excepcionais em que a fêmea de mamute esteve conservada durante milhares de anos. “Ela caiu num buraco com água ou num pântano, que lhe dava provavelmente até a meia altura do corpo. A parte de baixo do corpo congelou na água”, contou Semion Grigoriev, acrescentando que a parte de cima do mamute foi devorada parcialmente por predadores.
A carcaça foi removida do local onde ficou milhares de anos e transferida para um sítio apropriado à sua conservação, em uma gruta aberta no permafrost.
“Esta descoberta nos permite pensar realmente na hipótese de encontrar células vivas que permitam realizar o projeto de clonagem de um mamute”, referiu ainda o cientista russo. Para isso, a universidade de Iakoutsk já tem até assinado um acordo desde 2012 com o investigador sul-coreano Hwang Woo-Suk, o mesmo que clonou o primeiro cão, em 2005, o Snoopy, mas que também esteve envolvido numa fraude científica com células estaminais humanas. Alegava em 2004 – mas depois admitiu que os dados eram falsos – ter criado os primeiros clones humanos e que desses embriões tinha conseguido retirar células estaminais, para serem usadas com fins terapêuticos. Nada disto era verdade e Hwang Woo-Suk pediu desculpas em público, embora dissesse que não foi ele, mas outro membro da equipe, quem falsificou os dados.
Se se conseguirem obter células do mamute-lanudo (Mammuthus primigenius), o seu núcleo, onde está a esmagadora maioria do DNA, será transferido para ovócitos de elefante, esvaziadas antes do seu núcleo. O objetivo é produzir embriões com o DNA de mamute que seriam, em seguida, colocados no útero de uma fêmea de elefante asiático (Elephas maximus).
Mamutes, elefantes asiáticos e elefantes africanos (Loxodonta africana) tiveram um antepassado comum há cerca de seis milhões de anos. Aproximadamente há cerca de 1,6 milhões de anos, apareceram os mamutes. Viveram na África, Europa, Ásia e América do Norte, até se mudarem mais para norte, à procura de regiões mais frias, desaparecendo de vez há dez mil anos. Foram perseguidos pelos humanos, o que, além das mudanças climáticas, é apontado como uma causa para a sua extinção.
Estará agora o mamute-lanudo prestes a regressar à vida, num Parque Mesolítico? Aconteça o que acontecer, o mamute promete suscitar um debate sobre a ciência e a sua ética.
fonte: Público PT
Será que é provável trazer esse mamute de volta?