No dia 13 de dezembro de 2011 ele se foi, o Mosquito, ou Muska. Seu nome era Amilton Alexandre. O Mosquito voou para longe de nós, deixando milhares de leitores e admiradores órfãos de sua irreverência, ironia, bom humor e absolutamente nenhuma papa na língua.
Foi encontrado morto em sua casa, na Pedra Branca, Palhoça. A cena para lá de suspeita. Disseram que se suicidou, mas a porta da casa estava aberta. Seu computador estava ligado e sua última conversa online foi interrompida com sua saída da conversa, sem nenhuma despedida. Também não deixou nenhum bilhete.
Conheci o Mosquito durante a primeira campanha da então vereadora Angela Albino à prefeitura, em 2008. Ele não era o tipo de pessoa que tinha medo de dizer o que pensava. Falava na cara mesmo, e por conta disso dá pra imaginar como arrumava problemas rsrs
Quando o conheci, estávamos trabalhando em uma candidatura de um vereador, e lá mesmo ele conseguiu se desentender com praticamente todos hehehe
A campanha passou e a amizade com Mosquito continuou. Ensinei ele a usar o Twitter – jamais imaginaria o tamanho dos estragos que ele produziria com seu uso, polemizando e denunciando vereadores, deputados, o prefeito, a senadora e a presidente – e quase sempre com razão, é preciso que se diga.
Mosquito se tornou mais conhecido nacionalmente quando denunciou o estupro cometido por garotos, filhos da família dona da RBS, os Sirotski. Naqueles dias, seu blog, o Tijoladas do Mosquito, chegou a ter mais de 100.000 acessos em um único dia. Era o único que batia de frente, sem medo de enfrentar a rede que domina as comunicações em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
Por conta de suas denúncias, Mosquito tinha mais de 30 processos no judiciário catarinense. Recebeu inúmeras ameaças de morte e, por conta disso, havia registrado 25 boletins de ocorrência.
Mosquito foi encontrado enforcado, pendurado por um lençol.
Foi prometido, na época, pelo secretário de segurança do estado, uma rigorosa investigação. Até agora não li em lugar algum o resultado deste rigor todo.
Justamente por ter conhecido o Mosquito, não acredito na versão de seu suicídio. Poucos dias antes, encontrei ele andando pelas ruas de Coqueiros, com sua filha, que devia ter uns 10 anos. Que pai se suicidaria poucos dias depois, e faltando poucos dias para o Natal?
Mosquito tinha planos. Desejava concorrer a vereador em 2012 pelo PSOL. Já havia inclusive se filiado. Tinha planos para o blog. Havia lançado uma revistinha. Enfim, prometia continuar em 2012 sua luta quase solitária contra os desmandos na Ilha da Magia.
Um homem que foi preso, julgado e enquadrado na Lei de Segurança Nacional, por ter participado da Novembrada (o protesto contra o presidente general João Batista Figueiredo, quando este veio a Florianópolis em 1979) se enforcaria e desistiria de suas batalhas, sem mais nem menos?
Mosquito encerrou oficialmente seu blog no dia 9 de dezembro, e as últimas palavras que puderam ser lidas eram estas:
Quem tem acessado o blog nas últimas semanas notou um vem e vai de informações, postagens deletadas e até comentários sobre a coragem do blogueiro nas suas manifestações.
O blog foi construído com o objetivo de denunciar corrupção, tratar de assuntos ligados a cidadania e versar sobre os mais diversos temas da blogosfera.
Durante todo esse tempo, minha atividade foi manter o blog com informações e denúncias.
O blogueiro, apesar de muitas vezes advertido, carregou nas tintas contra os políticos. Passou dos limites em alguns casos. Claro, colheu processos e condenações, aos quais recorre.
Mas contribuiu para tentar sanear a política catarinense. Não foram poucos os assuntos tratados aqui transformados em inquéritos no Ministério Público e ações civis públicas.
Quem achou que havia financiamento de grupos interessados em obter vantagens com o que era publicado aqui, se enganou.
Tanta dedicação ao blog levou-me a um isolamento familiar, com oposição a minha atividade, problemas de saúde e outras dificuldades. Nas últimas semanas acusei o nocaute. Não tenho mais como enfrentar as ameaças e retaliações pelo que publico. É sensato dar um tempo.
Como diz um amigo meu: O que vc ganhou com o blog?
O ganho não foi pessoal, mas coletivo. Talvez um dia eu tenha a resposta para a minha parte.
Agora vou tentar me reestruturar numa atividade menos tensa. Preciso dar mais atenção a quem precisa: eu mesmo.
Passando pelo Cangablog vejo que o arsenal de maldades dos políticos não para. Vou deixar o Canga linkado aqui permanentemente. Devo dar alguns pitacos lá.
Aos meus leitores desejo bom Natal e um Ano Novo com saúde e paz.”
A última postagem no blog do Mosquito, que não está mais no ar, havia o seguinte texto de Jerônimo Gomes Rubim:
E encerra suas atividades o polêmico blog Tijoladas do Mosquito. Por três anos, legislativo, judiciário, executivo e outras ôtoridades de SC tremeram nas bases com as denúncias e xingamentos do Mosquito.
Ele foi o primeiro a denunciar o escândalo da árvore de natal da Beira Mar Norte. O primeiro a falar sobre os estupro de uma menor envolvendo Sirotskys. Várias denúncias do blog, bem documentadas, estimularam investigações do Ministério Público e condenações. Chegou a ser citado na sentença de um juiz que condenava um prefeito do interior a devolver dinheiro público.Talvez não tenha feito jornalismo na forma e padrão convencional, disparando adjetivos tortos e alguns “filhos da puta” a mais. Ganhou mais de 50 processos por isso. Dependendo da teoria de análise, alguns vão dizer que nem jornalismo fez, era só denuncismo. Mas foi um defensor apaixonado da ilha e seu povo (nós), e fez o que o jornalismo local não faz: desmascarou, denunciou, investigou e provou irregularidades. Mostrou ali, no blog público e acessado por mais de cinco mil pessoas por dia, a mão grande e a completa desfaçatez de quem é muito bem pago para escolher por nós – e que faz questão de escolher apenas por eles.Deixa seguidores fiéis, que viram nesse justiceiro dos bytes a voz comunitária da indignação. A pressão, vocês devem imaginar, é terrível. No último achaque do poder, dava depoimento em processo movido por Dário Berger quando recebeu uma ilegal voz de prisão ao responder pergunta do promotor – que tem cargo público e não poderia estar ali.Tá tudo documentado no blog dele, aparece lá. Descubra um pouco mais sobre o que realmente acontece na sua cidade. Como ele mesmo escreveu, o blog entra para a história de Florianópolis.
“Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade.” – George Orwell”
Nós não esquecemos de você, Mosquito. E não perdoaremos aqueles que nos tiraram de sua convivência. Mosquito, sempre presente!