Daqui a menos de um mês todas as cidades brasileiras elegerão prefeitos e vereadores. Alguns chamam de “espetáculo da democracia” – eu chamo de uma mera formalidade, uma vez que não há debates, não há discussão de propostas, de projetos para as cidades e as pessoas que são de fato as cidades. O jogo é desleal e desigual, onde a vantagem de quem tem o poder econômico sobre quem não tem é brutal. Grandes coligações com centenas de candidatos, e outras com algumas dúzias. Feita está observação inicial sobre o que acho desse processo formal, há ainda outros fatos ocorrendo, ainda mais lamentáveis. Tem circulado pelo Whatsapp algumas fotos de candidatas mulheres. Estas imagens são geralmente assim: de um lado o “santinho” da candidata e, do outro, fotos dela nua. Provavelmente algum nude vazado.
Interessante observar que estas imagens são enviadas de homens para homens. Pelo menos não vi nenhuma amiga minha comentar que viu este tipo de foto circulando.
Formou-se, melhor dizendo, já existia, já existe, e há anos, uma espécie de “confraria das putarias”, integrada por homens, que compartilham esse tipo de conteúdo. Antes de prosseguir, esclareço que nada tenho contra a pornografia. Acho natural, acho até saudável e eu também vejo.
Mas voltemos aos santinhos-nudes. Sabemos que são poucas, pouquíssimas, raras as mulheres nas câmaras e prefeituras. Onde moro, Florianópolis, desde 2004 não é eleita uma vereadora. Se não fosse pela legislação, teríamos ainda menos candidatas e mulheres eleitas.
Pois mesmo para estas poucas candidatas, é preciso ter muita determinação, muita coragem, muita ousadia para concorrer.
Não bastassem todos os preconceitos, a jornada dupla de mãe e trabalhadora, ganhar menos fazendo muitas vezes as mesmas coisas, sofrer assédio no trabalho, no ônibus, no metrô, nas ruas, não, é preciso mais. É preciso constranger, é preciso humilhar, é preciso buscar envergonhar estas mulheres, espalhando nas redes suas fotos nuas. Como se isso fosse um problema. Como se muitas vezes a mulher não enviasse essas fotos a pedido de seu namorado, ficante ou marido. Como se o homem que a recebeu não tivesse gostado de ter recebido aquela imagem. Que foi enviada em confiança. Que foi enviada, muitas vezes, com uma intenção de agradar aquele parceiro. Parceiro que, agora, desonra esta parceria, este pacto de confiança e espalha as fotos querendo atingir a alma daquela mulher.
Não vou nem entrar nas questões legais. Creio que é sabido que isso constitui um crime. Minha tristeza maior é ver que, no fim disso tudo, quem resta nu é todo o preconceito e machismo que mais uma vez desponta em nossa sociedade.