LulzSec e Hackerativismo, verdades inconvenientes sobre o Brasil

De tempo em tempo volta à tona a polêmica da LulzSec. Grupos se afirmam como sendo membros, amigos, contatos, correspondentes, e naturalmente ninguém consegue dizer no meio disso tudo o que é verdade. A proposta desse texto não é dizer o que é verdade, mas deixá-los um pouco mais preparados para tirarem as próprias conclusões.

Recentemente a FUEL tem sido apontada por algumas páginas por ter tocado nesse assunto, e percebemos que muitas delas têm feito mais confusão do que esclarecimentos. Esse é um erro muito comum em função da falta de humildade em admitir que não se sabe tudo, e na tentativa (talvez imatura?) de tentar trazer às pessoas uma verdade absoluta, acabam por fazer um grande desserviço.

Iniciamos esse post com essa mensagem de humildade. Nós não sabemos tudo e não apresentaremos aqui uma verdade definitiva. Mas nós sabemos algumas coisas, e também sabemos que muita gente mente para parecer mais sábia/inteligente/confiável. É uma liberdade individual, mas não é admissível num ambiente Anonymous. O que vamos fazer aqui é uma questão de manter as consciências limpas. As nossas e as suas.

O que é a LulzSec?

Resumidamente, LulzSec (abreviação de Lulz Security) é/foi um grupo hacker “black hat”, ou seja, que realiza práticas por meios não oficiais ou não permitidos (essa definição também foi simplificada, interessados pesquisem mais). Não é possível afirmar quando se formou com certeza, mas o nome veio a público por volta de 2011. Entre seus feitos famosos estão prejuízos causados à Sony e ao PayPal. Quem quiser detalhes, os encontra facilmente na Internet também.

LulzSec não é Anonymous. Anons e membros da LulzSec frequentaram espaços comuns e trocaram informações, mas são coisas bastante diferentes. LulzSec é originalmente um grupo hacker, Anonymous é uma Ideia (um conjunto de valores).

Como assim “originalmente” um grupo hacker?

Com a fama mundial da LulzSec, por todo o mundo começaram a surgir supostas “células” LulzSec, que seriam grupos hacker com metodologias e objetivos semelhantes. Falamos “supospas” porque não existe uma carta de princípios, um conjunto de ideias ou um órgão centralizador que defina o que é ou não LulzSec, então na prática é apenas a adoção de um nome.

Isso não invalida as atividades e propósitos de todas as variantes internacionais da LulzSec, apenas significa que eles não são A LulzSec, e sim UMA LulzSec. Se eu abrir uma lanchonete e chamá-la de Mc Donald’s não significa que ela faz parte da rede. Mas nesse caso existe um registro oficial e eu posso ser processado. No caso da LulzSec não. Entendido? Então, adiante…

Todo grupo LulzSec é hacker?

Não. Na verdade, a maioria dos que assumem esse nome não são hackers, nem hackerativistas. Vamos dar algumas definições simplificadas aqui para que entendam:
– Ativismo: É uma prática cotidiana da defesa ou contraposição de uma situação, que envolve sua difusão ideológica a partir de conteúdos teóricos e iniciativas práticas, de modo pacífico ou não. Técnicas comuns de ativismo são passeatas, piquetes, ocupações, panfletagem, distribuição de informações, intervenções artísticas, etc. O ativista leva essa teoria e prática para seu cotidiano.
– Cyberativismo: É o ativismo praticado a partir de meios digitais. Todo cyberativista é um ativista, mas nem todo ativista é um cyberativista. É basicamente, a soma de um MEIO para prática ativista (o digital, seja na internet, rádio, televisão, mídias digitais como CDs e disquetes, etc). Cyberativista é um ativista que USA a tecnologia.
– Hackerativismo: É o ativismo que envolve a atividade hacker, invasão de sistemas, encriptação e desencriptação de dados, hijacking, defaces verdadeiros etc. Todo hackerativista é um cyberativista e, portanto, um ativista. Nem todo cyberativista é um hackerativsta. Hackerativista é um cyberativista que SUBVERTE a tecnologia.

Entendi, mas quero exemplos!

Panfletar é ativismo. Ocupar espaços públicos é ativismo.

Publicação e disseminação de conteúdo online é cyberativismo (equivalente a “panfletar” na internet). “Ataques” ddos ou uso de hoic/loic é cyberativismo (equivalente a “ocupar” na internet).

Roubo de informações a partir da invasão de sistemas é hackerativismo. Interrupção de sinais de transmissão para substituir mensagens é hackerativismo. São técnicas que subvertem a tecnologia.

Ficou claro? Mais ou menos? Então seremos diretos…

Quem derruba sites com negação de serviço (ddos/hoic/loic) é cyberativista. E quem popularizou técnica inicialmente não foi Anonymous, nem a LulzSec, mas o TEDT (The Electronic Disruption Theatre), um grupo cyberativista.

9 entre 10 meninos hackers agora estão pensando “então eu não sou hacker?”. Isso, não é. E pare de dizer que é, para não sustentar mais confusões.

Engenharia Social e Peraltices

Engenharia social também não é ser hacker. Descobrir dados e senhas das pessoas, roubar páginas de Facebook a partir de acesso administrativo, nada disso é ser hacker. Usar keyloggers é apenas ser alguém um pouco mais espertinho que a média. Mas continue estudando, porque o mundo precisará de hackers amanhã. Pode ser você, ladrãozinho de contas de facebook ou aplicador de patches/hacks de rpgs online. Só não se restrinja a isso.

Exposição de dados

Muitos grupos fazem exposição de dados. A FUEL mesmo já fez várias vezes. Mas fazemos isso quando um hacker descobre essas informações e disponibiliza. Divulgar trabalho de hackers também não é ser hacker.

Pronto, agora podemos ir ao X da questão

Estando tudo isso claro, acreditamos que vocês mesmos poderão discernir nas suas cabeças quem é hacker e quem não é, e quem está usando o nome LulzSec apenas pra parecer mais perigoso ou falsear autoridade sobre o que diz.

É absurdamente comum, no meio anon, que as pessoas mintam para forjar autoridade. Isso é deprimente, mas é verdade. E parte do motivo é que a Ideia tem cativado pessoas cada vez mais jovens, com todas as contradições de suas juventudes. A maioria dessas pessoas é prepotente e está mais preocupada em parecer alguma coisa para ter status do que aprender alguma coisa para serem alguém de fato. Tanto que têm um orgulho estranho em divulgar seus nomes por aí. Hackers dificilmente querem atenção para si.

Já faz uns cinco anos que vemos pessoas citando LulzSec e contatos no exterior apenas para “crescerem” e se imporem. Com a entrada da Anonymous no Facebook (maldita escolha!), esse hábito também viralizou.

Não estamos dizendo aqui que todo mundo mente. Mas estamos dizendo que quase todo mundo mente. E a maioria o faz por ingenuidade, não por má intenção. O problema é que essas mentirinhas causaram tanta confusão que muita gente ficou de saco cheio e abandonou as práticas e a Ideia. Outros poucos decidiram radicalizar e partiram pra cima da hipocrisia (nós, entre esses).

Não existe LulzSec oficial no Brazil. A única LulzSec é a primeira LulzSec. Os outros grupos se apropriaram do nome, alguns com coerência e a maioria esmagadora não.

O motivo de insistirmos desde o início da FUEL em “não somos hackers” é também uma tentativa de desfazer essas confusões. Porque nós não somos mesmo, e não sentimos a menor necessidade de enganar vocês para nos sentirmos mais importantes ou perigosos.

Hackers invadem contas e servidores silenciosamente, depois mostram o que têm que mostrar a partir de meios esquivos que não permitem sua identificação e rastreamento. “Cão que ladra não morde” se aplica formidavelmente a essa situação.

Observações FUEL

Que isso não sirva de embasamento para que se diminua pessoas, sobretudo os mais novos, que frequentemente chamamos de “meninos” ou “nova geração”. Eles estão fazendo muita “cagada”, é claro que estão. Eles também entenderam muita coisa errado e eventualmente são manipulados por grupos ideólogicos e pelo senso comum midiático. Mas eles estão tentando, e isso é admirável.

O Brasil ainda não possui bons times hackers que atuem pelo povo ou ao menos contra corporações, e isso é uma pena porque a segurança on-line em nosso país é de fazer chorar. Esse não é o compromisso da FUEL. Queremos esclarecer as pessoas sobre a Ideia, sobre história, sobre política, sobre cultura, sobre ciências, para que elas atinjam emancipação crítica.

Mas cada um faz aquilo que acredita saber fazer melhor. A todos os grupos de estudos “hackers”, sejam hackers ou não, fica aqui nossa mensagem de incentivo e dedicação. E continuem nos procurando para divulgar quando derrubarem sites de empresas ou do governo, ou quando fizerem defaces, porque acreditamos que isso encoraja outros.

Só não parem de estudar. E pensem que o que vai fazer diferença é o que você É e FAZ, não aquilo que você parece. Nosso meio é sagaz, e quem só parece acaba sendo ridicularizado e paga o preço de suas ambições.

Gaste mais tempo ajudando o irmão ao seu lado a ter controle sobre a própria vida do que querendo assumir controle sobre o que está ao seu redor.

Somos um!

Anonymous FUEL

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Posted by Wladimir

Nerd desde sempre. Começou a programar em Basic, em um CP 400 Color II lá por 1985. Fã de Star Wars, Star Trek e outras séries espaciais. Pai de 4 filhos - um era pra se chamar Linus, mas o nome encontrou muita resistência :( Aliás, software livre é outra paixão. Usuário Linux desde 1999. Presidente da Associação Software Livre Santa Catarina. Defensor do livre compartilhamento. É o compartilhamento que tem feito a humanidade avançar. As ideias são uma construção coletiva da humanidade :) Foi fundador do Partido Pirata do Brasil e membro de sua 1ª Executiva Nacional (2012-2014). Foi também assessor do gabinete do Ministro da Ciência e Tecnologia durante 2016, até a efetivação do golpe que destituiu Dilma Rousseff. Ah, também é editor aqui dessa bagaça, onde, aliás, você também pode colaborar. Só entrar em contato (42@nerdices.com.br) e enviar suas dicas, artigos, notícias etc. Afinal, a Força somos nós!

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