Contra o vigilantismo na internet, o Partido Pirata

Um espectro ronda a internet, o espectro do vigilantismo. Hollywood e governos, a indústria de games e a da música, FBI e CIA, empresas de telecomunicações e meios tradicionais de mídia, todos se unem para pensar e implementar formas de vigiar, controlar, moldar a internet, esta grande rede de pessoas. Controlar eu e você.

São as forças da reação, no sentido literal da palavra, que buscam reagir e tentar impedir estas transformações trazidas pela revolução digital. Esta revolução silenciosa que está mudando as formas de trabalhar, de produzir, de se comunicar e relacionar socialmente. Este processo que possibilitou que nos tornássemos muito mais do que apenas consumidores de informações, tornou-nos também produtores.

A revolução digital está realizando um empoderamento como nunca visto na história da humanidade. Não apenas nos comunicamos, mas também podemos criar, recriar, transformar, inventar, inverter! O bombardeio de informações a que estamos todos submetidos tem levado muitos a questionar também coisas que não eram questionadas. Pessoas que eram completamente alheias ao que ocorre no mundo e no Brasil, na sua cidade, e que agora questionam e se perguntam se as coisas não poderiam ser de outra forma.

Estas forças da reação, percebendo que isto está acontecendo sem que elas possam ter o controle, apresentam-se como defensoras da propriedade intelectual, do direito autoral, da guerra contra a pirataria, da luta contra o terrorismo etc e, usando este discurso, apresentam suas soluções: vigilância, controle do que os usuários acessam, restrições a conteúdos.

Ocorre que esta revolução digital, que gerou o livre compartilhamento de arquivos em escala de massas, a impressão em 3D, o software livre, o hacktivismo, o bitcoin, criou também as condições para a criação dos partidos piratas, que surgem questionando a propriedade intelectual e os direitos autorais, mas também questionando o sistema baseado na democracia representativa, a falta de transparência nos governos (quando a tecnologia pra tornar a atividade administrativa totalmente transparente está aí), propondo o debate da democracia direta, da democracia líquida e, o mais importante, um posicionamento firme em defesa dos direitos civis e das liberdades individuais.

Para os piratas, está bem claro o que está em jogo: a defesa da propriedade intelectual e do direito autoral só é possível com a violação da privacidade individual, com o estabelecimento de um sistema gigante e complexo de vigilância da atividade dos usuários na internet. Não há outra forma!

Nos seus 7 anos de existência, o movimento de partidos piratas chegou a cerca de 80 países, e, onde já se legalizou, vem sendo bem sucedido eleitoralmente. Na Alemanha já são 43 deputados; no Parlamento Europeu, um deputado e uma deputada, eleitos pelo Partido Pirata da Suécia, o primeiro a ser fundado no mundo; na República Tcheca, um senador; na Suíça, um prefeito; cerca de uma centena de vereadores espalhados pela Europa; nas eleições para o parlamento da Islândia, daqui a duas semanas, os piratas aparecem com 8% de intenção de votos. Aqui, as velas também foram içadas e o Partido Pirata do Brasil está em processo de legalização, após ter feito sua primeira convenção nacional ano passado. Todos e todas estão convidados a subir à bordo desta experiência colaborativa na política.

Wladimir Crippa, tesoureiro geral do Partido Pirata do Brasil – PIRATAS

publicado originalmente no Viomundo

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Posted by Wladimir

Nerd desde sempre. Começou a programar em Basic, em um CP 400 Color II lá por 1985. Fã de Star Wars, Star Trek e outras séries espaciais. Pai de 4 filhos - um era pra se chamar Linus, mas o nome encontrou muita resistência :( Aliás, software livre é outra paixão. Usuário Linux desde 1999. Presidente da Associação Software Livre Santa Catarina. Defensor do livre compartilhamento. É o compartilhamento que tem feito a humanidade avançar. As ideias são uma construção coletiva da humanidade :) Foi fundador do Partido Pirata do Brasil e membro de sua 1ª Executiva Nacional (2012-2014). Foi também assessor do gabinete do Ministro da Ciência e Tecnologia durante 2016, até a efetivação do golpe que destituiu Dilma Rousseff. Ah, também é editor aqui dessa bagaça, onde, aliás, você também pode colaborar. Só entrar em contato (42@nerdices.com.br) e enviar suas dicas, artigos, notícias etc. Afinal, a Força somos nós!

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