WebOS e o perigo da extinção das equipes de desenvolvimento

O WebOS é um sistema operacional baseado em Linux, voltado aos dispositivos móveis  e tecnicamente muito interessante, mas cuja história é marcada por incidentes infelizes.

Nascido em 2009 para ser a “nova geração” que sucederia o clássico Palm OS (então prestes a completar 15 anos), virou aposta no segmento dos tablets quando a empresa que o desenvolvia foi adquirida, apenas para ver o único tablet lançado com ele ser cancelado poucas semanas após chegar às lojas.

Mas o cancelamento dos únicos dispositivos que o usavam não foi o fim da sua existência: meses após a notícia, chegou a novidade de uma nova chance. Como vimos anteriormente, foi anunciado que seria aberto e disponibilizado ao público o código do sistema operacional, de seus aplicativos e das ferramentas de desenvolvimento associadas, e que a equipe de desenvolvimento continuaria sendo paga para mantê-lo durante esta transição até que o produto ficasse completo e pudesse ser mantido por uma comunidade de interessados.

Um dos principais focos desta equipe era o Enyo, framework Javascript essencial para os aplicativos do WebOS mas cuja grande sacada era ser multiplataforma, permitindo que os apps desenvolvidos para ele rodassem também em outros sistemas operacionais móveis populares e em navegadores desktop como o Chrome, IE e Firefox.

Algumas versões do código do Enyo chegaram a ser disponibilizadas mas, quando tudo parecia ir bem, a sina do WebOS se repetiu na forma de mais uma má notícia à sua continuidade: dessa vez, na forma da contratação, pelo Google, de boa parte dos principais nomes da equipe que mantinha o Enyo.

É fácil entender os motivos: o Google tem interesse tanto em sistemas operacionais móveis (incluindo o seu Android) quanto em aplicativos web multiplataforma, e os profissionais em questão, trabalhando em um projeto com pouca perspectiva de gerar lucros diretos, devem ter percebido que seu futuro estava em perigo e valia a pena procurar outras alternativas quando a companhia hoje proprietária do WebOS anunciou recentemente um plano de reestruturação que vai gerar quase 30.000 demissões.

Também repetindo o histórico do WebOS, logo veio a notícia de que não foi o fim definitivo: os funcionários que sobraram na equipe de desenvolvimento original divulgaram que redobraram seus esforços, e a empresa anunciou oficialmente que está incluindo novos integrantes na equipe, e permanece comprometida com o cronograma original, que previa completar a disponibilização do sistema até setembro.

O exemplo é 100% corporativo, mas evidencia um risco de governança que afeta potencialmente todo projeto de desenvolvimento aberto ou cooperativo: a possibilidade de algum projeto concorrente conseguir atrair não apenas um ou outro talento da sua equipe, mas sim um conjunto deles simultaneamente, impacto que é muito difícil de absorver porque leva consigo não apenas o conhecimento, mas também a cultura e até o impulso do projeto.

Além de torcer pela continuidade do WebOS depois de mais este revés, aproveito a oportunidade para sugerir a reflexão sobre quais os elementos que mantém coesas as equipes dos seus projetos de desenvolvimento, e quanto eles estão aptos a reter seus talentos em um mercado onde não faltam projetos promissores!

 

Artigo de Augusto Campos, publicado no Developers Work da IBM

 

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Posted by Wladimir

Nerd desde sempre. Começou a programar em Basic, em um CP 400 Color II lá por 1985. Fã de Star Wars, Star Trek e outras séries espaciais. Pai de 4 filhos - um era pra se chamar Linus, mas o nome encontrou muita resistência :( Aliás, software livre é outra paixão. Usuário Linux desde 1999. Presidente da Associação Software Livre Santa Catarina. Defensor do livre compartilhamento. É o compartilhamento que tem feito a humanidade avançar. As ideias são uma construção coletiva da humanidade :) Foi fundador do Partido Pirata do Brasil e membro de sua 1ª Executiva Nacional (2012-2014). Foi também assessor do gabinete do Ministro da Ciência e Tecnologia durante 2016, até a efetivação do golpe que destituiu Dilma Rousseff. Ah, também é editor aqui dessa bagaça, onde, aliás, você também pode colaborar. Só entrar em contato (42@nerdices.com.br) e enviar suas dicas, artigos, notícias etc. Afinal, a Força somos nós!

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